quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

"Deus não enviou o seu Filho para não mudar nada. A sua glória nas alturas é a paz na terra. Mas ele não impõe esta paz das alturas. O Evangelho conta a maneira inacreditável como Deus age com a humanidade. Em Jesus, ele vem pedir a cada uma e cada um, geração após geração, para participar na sua obra de reconciliação. Então, mesmo nas horas sombrias, a promessa do Natal é fonte de perseverança para os que procuram construir a paz onde ela é ameaçada.
No Natal, compreendemos que a paz é um dom de Deus e que é importante, em primeiro lugar, acolhê-lo. Somos chamados a uma verdadeira conversão, voltando-nos para uma criança numa creche. Sem esta conversão do coração, não há paz verdadeira, apenas aparência de paz, como a do imperador Augusto. «Começai em vocês próprios a obra de paz para que, uma vez pacificados vocês mesmos, possais levar a paz aos outros», dizia Santo Ambrósio.
Quando celebramos o Natal, Deus faz nascer em nós a paz de coração. Nós vamos buscá-la à confiança que temos de que Deus ama os homens, todos os homens sem distinção.
Contudo, para muitos dos nossos contemporâneos, entender tal palavra sobre o amor de Deus parece demasiado fácil. São muitos os que procuram seriamente dar um sentido à sua vida, sem, no entanto, serem capazes de acreditar num Deus pessoal que os ama. Estaremos suficientemente atentos àqueles a quem uma procura da fé coloca perante um Deus que lhes parece incompreensível?
No Natal celebramos um Deus que se faz próximo, mas não queremos esquecer que ele permanecerá sempre para além daquilo que podemos compreender. Abramos generosamente o nosso coração e a nossa inteligência a estas duas dimensões do mistério de Deus: à sua proximidade e à sua transcendência.
Nem todos podem compreender estas duas dimensões. Alguns são tocados pela sua presença muito próxima, quase sensível ao seu coração. Outros, como a Madre Teresa, conhecem sobretudo o silêncio de Deus. No entanto, é possível caminhar com Jesus: ele conheceu simultaneamente a grande proximidade e o silêncio ao mesmo tempo. Os Padres da Igreja comentaram muito bem a simultânea encarnação e incompreensibilidade de Deus.
A fé cristã aparece, então, como um risco, como a audácia da confiança. Toda a Bíblia nos conduz a esta confiança: é o Deus absolutamente transcendente que nos vem falar numa linguagem acessível.
Meditar a proximidade de Deus manifestada no Natal provocará sempre o espanto. O Verbo fez-se carne. Deus fez-se vulnerável. Santo Agostinho insiste: a sua palavra torna-se numa pequena criança incapaz de falar. A partir do seu nascimento, Jesus é lançado à precariedade, à instabilidade da existência humana. Imediatamente depois, sofre com Maria e José a perseguição e o exílio.
No Natal, já se mostra a sombra da cruz .
Encarnando-se, Deus escolhe revestir a fragilidade humana. Vem habitar as nossas rupturas e os nossos sofrimentos. Cristo junta-se a nós no mais baixo, faz-se homem como nós para melhor nos estender a mão.
Pela vinda de Jesus, Deus compromete-se a uma verdadeira partilha. Assume a nossa humanidade e, através dela, a nossa própria pessoa. Em troca, comunica-nos a sua vida.
Maria é a garantia de que esta partilha é real, pois ela traz a promessa que conduzirá à reconciliação da humanidade com Deus.
Ousemos reconhecer na pequena criança do presépio a presença de Deus, acolhamos a sua paz, e com ela a esperança de paz para o mundo inteiro. No Natal, Deus envia-nos a transmitir esta paz a todo o lado. O nosso mundo precisa de mulheres e de homens corajosos que através da sua existência expressem o apelo do Evangelho à reconciliação.
Recordemos que na história, por vezes bastaram algumas pessoas para fazer inclinar a balança no sentido da paz. A confiança e a coragem de uma mulher, a Virgem Maria, foram suficientes para deixar Deus entrar na nossa humanidade. Deixemo-nos levar por esta confiança e por esta coragem."

Irmão Alois de Taizé


Um Santo e Feliz Natal para todos...

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

"Senhor, se quiseres podes purificar-me"...

Chove imenso lá fora. Nem sei o que esta chuva me traz à memória. Talvez seja um sinal d'Ele a pedir-me que O deixe saciar-me da sua água viva, talvez seja uma alegoria das "fontes da salvação" onde o Senhor se oferece como dom gratuito, dom de amor e de vida. Nesta hora tardia, a chuva lembra-me também a necessidade de voltar ao primeiro olhar, ao momento em que percebi que tinha sido seduzido por Ele, e pede-me que me abra à graça de O deixar purificar-me, de deixar que Aquele a quem chamo meu Senhor lave o meu coração no seu Espírito, para limpar aquilo que vai obscurecendo o amor do primeiro encontro. Confio-me, nesta hora sombria, ao seu Coração, na certeza de nada temer porque, na noite, a Luz está comigo.


terça-feira, 9 de dezembro de 2008

"O meu Amado é para mim, e eu sou para Ele"...


Jesus, Tu és o Bom Pastor, o meu Pastor...
Em Ti nada me falta, só me Tu bastas...
Aos prados da tua Misericórdia me conduzes,
e sacias o meu coração com a tua Ternura.
Na tua Presença fazes descansar a minha alma
e aos ombros me levas pelos caminhos da Verdade.
Estás comigo e não tenho medo, ainda que percorra o vazio dos vales escuros do egoísmo, da alienação, da dúvida... a loucura do Teu amor me enche de confiança.
Para mim preparas a mesa da Palavra, do Pão da Vida, da partilha fraterna entre irmãos...
Com o óleo da alegria unges a minha cabeça
e o meu cálice transborda do teu Espírito.
Na palma das tuas mãos me levas, fazes comigo maravilhas,
e me abrigas na tenda que edificaste no meu coração.

Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo,
ao Deus que é, que era e que vem
pelos séculos dos séculos.
Amen.

domingo, 30 de novembro de 2008

Advento... "Deus espera por nós"

«Queridos irmãos e irmãs!
Iniciamos hoje, com o primeiro Domingo do Advento, um novo Ano Litúrgico. Este facto convida-nos a reflectir sobre a dimensão do tempo, que exerce sempre sobre nós um grande fascínio. A exemplo de quanto a Jesus aprazia fazer, gostaria contudo de partir de uma constatação muito concreta: todos dizemos que "nos falta o tempo", porque o ritmo da vida quotidiana tornou-se frenético para todos. Também a este propósito a Igreja tem uma "boa notícia" para dar: Deus doa-nos o seu tempo. Nós temos sempre pouco tempo; sobretudo para o Senhor não sabemos ou, por vezes, não o queremos encontrar. Pois bem, Deus tem tempo para nós! Esta é a primeira coisa que o início de um ano litúrgico nos faz descobrir com admiração sempre nova. Sim: Deus doa-nos o seu tempo, porque entrou na história com a sua Palavra e com as suas obras de salvação, para a abrir ao eterno, para a tornar história da aliança. Nesta perspectiva, o tempo já é em si um sinal fundamental do amor de Deus: um dom que o homem, como qualquer outra coisa, é capaz de valorizar ou, ao contrário, dissipar; de compreender no seu significado, ou descuidar com obtusa superficialidade.
São três os grandes "eixos" do tempo, que cadenciam a história da salvação: no início a criação, no centro a encarnação-redenção e no final a "parusia", a vinda final que inclui também o juízo universal. Mas estes três momentos não devem ser compreendidos simplesmente em sucessão cronológica. Com efeito, a criação está de facto na origem de tudo, mas também é contínua e realiza-se ao longo de todo o porvir cósmico, até ao fim dos tempos. Assim também a encarnação-redenção, se aconteceu num determinado momento histórico, o período da passagem de Jesus na terra, contudo alarga o seu raio de acção a todo o tempo precedente e a todo o seguinte. E por sua vez a última vinda e o juízo final, que precisamente na Cruz de Cristo tiveram uma antecipação decisiva, exercem a sua influência no comportamento dos homens de todas as épocas.
O tempo litúrgico do Advento celebra a vinda de Deus, nos seus dois momentos: primeiro convida-nos a despertar a expectativa da vinda gloriosa de Cristo; depois, aproximando-nos do Natal, chama-nos a acolher o Verbo que se fez homem para a nossa salvação. Mas o Senhor vem continuamente na nossa vida. Portanto, é oportuno como nunca o apelo de Jesus, que neste primeiro domingo nos é reproposto com vigor: "Vigiai!" (Mc 13, 33.35.37). Dirige-se aos discípulos, mas também "a todos", porque cada um, na hora que só Deus conhece, será chamado a prestar contas da própria existência. Isto exige um justo desapego dos bens terrenos, um arrependimento sincero dos próprios erros, uma caridade laboriosa em relação ao próximo e sobretudo uma entrega humilde e confiante nas mãos de Deus, nosso Pai terno e misericordioso. Ícone do Advento é a Virgem Maria, a Mãe de Jesus. Invoquemo-la para que ajude também nós a tornarmo-nos um prolongamento de humanidade para o Senhor que vem.»

Papa Bento XVI


quarta-feira, 5 de novembro de 2008

"Tomei-te para Mim"...

"Na verdade, é Deus quem opera em vós o querer e o agir segundo os seus desígnios de amor. Fazei tudo sem murmurar nem discutir, para serdes irrepreensíveis e puros, filhos de Deus sem mancha, no meio de uma geração perversa e depravada, onde brilhais como estrelas no mundo, ostentando firmemente a palavra da vida." Fl 2


Nos últimos dias, a Palavra tem-me interpelado de uma forma especial. É quase gritante a forma como Deus me tem pedido: «põe-Me no centro da tua vida, faz de Mim o primeiro e Eu darei o valor verdadeiro a tudo o resto». Sei o quão urgente é este apelo e teimo em pôr-me sempre no lugar d'Ele, insisto ansiosamente em não deixar que Ele me surpreenda. Hoje, novamente, o Senhor vem convidar-me a deixar que Ele opere em mim "o querer e o agir segundo os seus desígnios de amor", hoje, oiço a Sua voz que diz "tomei-te para Mim" e Ele sabe como quero fazer-me dom, apesar de me deixar levar pelas sombras do mundo. Como diz a Mafalda, sei que estarei no rumo certo "se a minha vida for por onde vais, a encher de luz os meus lugares ausentes"... Esta luz, que Ele me pede que seja no mundo, como estrela pequenina, será tanto mais brilhante quanto mais eu me fizer dom por Ele, com Ele e n'Ele. E embora ainda veja esta meta lá ao fundo, no horizonte do meu caminho, quero confiar que Ele pode surpreender-me sempre mais do que aquilo que espero... Na pequenez da minha fragilidade só quero deixar-Te entrar e fazer de Ti o centro, só quero aprender a amar-Te como sou e dar-Te o meu coração... E mais uma vez vem a Mafalda a pôr na minha boca as palavras que, de coração convicto e convertido, gostaria de dizer-Te: "é que eu quero-te tanto, não saberia não te ter, é que eu quero-te tanto, é sempre mais do que eu te sei dizer"...


sexta-feira, 24 de outubro de 2008

"Grava-Me no teu coração"...


Bom Deus, cada vez mais experimento a paz e a serenidade, que a certeza de ser transportado nas Tuas "asas de águia", trazem ao meu coração. Tal como, outrora, libertaste os nossos pais, o povo de Jacob-Israel, da "casa da servidão", sei que hoje também vens ao meu encontro para me levar aos ombros e libertares o meu caminho dos obstáculos que o obstruem. É na Tua Palavra, Senhor Deus-Connosco, que falas ao meu coração, constróis a minha consciência e aplanas, diante de mim, o caminho que trilho. Sabes que, tantas vezes, me deixei seduzir por outros deuses, que fechei a minha vida à Tua Presença, que não soube descobrir-Te no irmão que caminha a meu lado. Mas, ainda assim, sei que não desistes de mim... Continuas a propôr-me a Tua Palavra de Vida, os Teus mandamentos de fidelidade, e esperas pacientemente a minha resposta, no Teu silêncio, nas profundidades de mim mesmo. Quero responder-Te como o Teu Povo no Sinai: "poremos em prática todas as palavras que o Senhor pronunciou", quero responder ao Teu apelo "sede homens santos", quero, Senhor meu Deus, trazer a Tua vontade, o Teu querer, o Teu Ser gravados em mim, à semelhança dos mandamentos que gravaste na pedra, e que ofereceste ao Teu Povo como sinal da Tua aliança... Hoje, desejo com todas as minhas forças, apenas permanecer junto de Ti...


"E agora se escutardes bem a minha voz e guardardes a minha aliança, sereis para mim uma propriedade particular. Vós sereis para mim um reino de sacerdotes e uma nação santa."

Ex 19, 5-6

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

"As coisas vulgares que há na vida não deixam saudade"...


Senhor, Rochedo da minha paz, hoje, pela tua Palavra vens tranquilizar-me e falar-me ao coração. Visitas o Teu Povo, fazes-te Presença no meio de nós, dizes-nos com ternura, no Teu silêncio, que nos amas... Hoje, quero que em mim se faça a Tua vontade, quero apenas que a Tua Palavra actue plenamente em mim, que se cumpra em mim. Quero, Bom Deus, abrir o coração à Tua Paz, fazer de Ti, da Tua Palavra, do Teu Ser, o centro e a essência do meu caminhar, da minha vida. Sabes que esta tem sido uma tarde dificil para mim, sabes que, ao ver cair a chuva, ao contemplar o cinzento do dia, surgem dentro de mim as saudades daqueles que brilham no meu caminho como estrelas na noite, saudades de casa, do aconchego e da ternura da família, da cumplicidade dos amigos, daqueles cuja presença me confortava e me fazia sorrir, daqueles onde vislumbrava já a Tua face...

Tu, meu Protector, que velaste por mim "desde o dia do meu nascimento", que derramaste no meu caminho as bênçãos que "atingem os limites das montanhas eternas", Tu meu "apoio", faz jorrar nesta tarde sobre mim os Teus rios de Paz, a paz que inunda o coração e me dá a certeza do Teu Amor, o único que pode preencher-me totalmente. Tu que disseste pela boca de José, filho de Jacob-Israel, que do mal tiras o bem, do sofrimento, da dor, da ângústia, da saudade tiras a força e a vida para que o Teu Povo seja salvo, faz-me compreender, hoje, mais plenamente este mistério, para que eu saiba entregar-me nas Tuas mãos sem medida, para que eu descubra o verdadeiro sentido das Tuas Palavras: "quem perde a sua vida por mim, encontrá-la-á".

Oiço a tua voz e o meu coração acolhe a Tua alegria: "Não tenhas medo, Eu conheço quem escolhi, Eu estou aqui"...


Oração que escrevi durante a lectio divina, na tarde de ontem, meditando o texto bíblico de Gn 48-50...

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

"Ama-Me como és... Dá-Me o teu coração."

Depois de 3 dias de retiro, momento propício a descobrir-me à luz de Deus, ficam estas palavras, em jeito de síntese...

«"Tu pertences-Me". Mas com isto disse também: "Tu estás sob a protecção das Minhas mãos. Tu encontras-te sob a protecção do Meu coração. Tu estás conservado na palma da Minha mão e é precisamente assim que te encontras na vastidão do Meu amor. Coloca-te nas Minhas mãos e dá-Me as tuas".

Bento XVI


segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Acolhido nos Teus braços...

Lembro-me, ultimamente, muitas vezes daquela estação de metro onde nos separámos. Aquela imagem surge, hoje, em mim como uma alegoria da vida. Ao entrar naquela carruagem sabia que tomava um rumo diferente para o futuro, um rumo que me levaria para longe e tive medo. Medo de deixar a banalidade, das saudades daqueles de quem gosto, medo de ser "pequenino" aos olhos dos outros. Vi alguns partirem e outros ficarem. Depois chegou a minha vez. Deitei a cabeça amiúde pela janela, e duvidei ainda mais se era esta a minha estação. Cheguei ao meu destino há uma semana e senti-me em casa. Senti uns enormes braços, ternos e acolhedores, que me apertavam com um amor que nada podia conter. E fiquei aconchegado no colo, de Alguém que me disse: "amei-te com um amor eterno". Disse que se chamava "Eu Sou", mas que todos o tratavam por Pai, e constatei que, de facto o era. Perguntei-lhe para onde devia ir agora, qual era o caminho que Ele preparara para mim. E ouvi a Sua voz, silenciosa e íntima, que me dizia: "Não tenhas medo, de hoje em diante levar-te-ei aos ombros, meu filho amado, de volta a Casa...". E aqui vou eu, bem seguro nos ombros do Pai, de mãos dadas, confiado que o Seu amor é maior que as dificuldades do caminho...
Maria, Mãe da Ternura, hoje confio à tua proteção aqueles que deixei e aqueles que encontrei. Entrego-te os irmãos que vão cruzando o meu caminho, que vão ajudando a superar o peso da jornada e dando alegria, cor, ritmo ao meu rumo. Guarda-os junto do teu coração terno e aponta-lhes sempre o teu Filho, Libertador e fonte de felicidade. Pede ao Pai por mim, para ver a vida com os Seus olhos, fixando o essencial, o amor que Ele colocou nos nossos corações. Vela pelo meu novo caminho, pela minha resposta à voz do Senhor, para que, olhos nos olhos com Jesus, possa dizer o mesmo "Sim" que disseste ao Pai. Fico em ti, na esperança de estar cada vez mais junto do Coração de Deus...

terça-feira, 16 de setembro de 2008

"Aqui estou eu..."

"Entrar na fé é reconhecer que foi Deus quem primeiramente caminhou até nós. É ir ao Seu encontro, aceitando uma aventura. A fé dos cristãos é, antes de tudo, deslumbramento diante de um amor imerecido. O cristão entra, como todo o homem, com dificuldade, nesta descoberta. Os cristãos não têm a vida mais fácil do que os outros; aceitam um amor e deixam converter o seu coração. E a Igreja acolhe-nos nesta confissão da fé."

Philippe Ferlay, Manual da Fé Católica





"Se necessitas de virgens, Senhor,
se necessitas de valentes sob o teu estandarte
aí estão Clara, Teresa, Domingos, Francisco, Inácio…,
aí estão Lourenço, Cecília…
Mas se, por acaso, alguma vez precisares de um preguiçoso
e de um medíocre, de um ou outro ignorante, de um orgulhoso,
de um cobarde, de um ingrato e de um impuro,
de um homem cujo coração esteve fechado e cujo rosto foi duro…,
aqui estou eu.
Quando te faltarem os outros, a mim sempre me terás."

Charles Péguy

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Intimidades...

Poderei abrir-vos hoje o coração? Talvez o faça, prometendo ser apenas eu próprio... A propósito disto mesmo é que vos quero falar. Já se sentiram alguma vez dilacerados nas vossas profundidades por aquilo que são vocês próprios em contraste com o que desejavam ser, com os vossos sonhos e ilusões? Não quero dizer que os sonhos, as ilusões, não sejam parte do nosso ser nós próprios, mas há um cantinho profundo, onde reside a essência daquilo que sou, juntamente com as interrogações existenciais e com as respostas que tento dar-lhe. Acerca de tudo isto escrevo, abaixo, em jeito de diário... eu próprio... íntimo....


«23/08/2007 - Algures junto ao mar

Esta noite, esta semana... onde é que isto entra no plano traçado? Se o tivesse visto anteriormente diria seguramente que esta estrada não estava no meu "mapa". Não penses em estradas proibidas nem em caminhos extraordinários... não, pensa apenas em banalidades, que é disso que se trata. Mas banalidades que mexem cá dentro e dilaceram o coração porque me fazem pensar quem sou eu afinal. O que quero? O que ou quem procuro? Hoje estou dividido entre as vozes que ressoam cá dentro, tantas e tão diferentes que é impossível não ouvir. Talvez ensurdeça e me deixe levar pela loucura. Talvez não. Penso que tiro férias de tudo, de mim mesmo, de Deus... E aqui dou espaço a que entre tudo, o bom e o mau. E volta a interrogação: quem sou? Para onde quero ir? Vejo, agora, que me deixo levar na corrente e perco a minha liberdade, mas é tão inebriante que não sei se quero sair deste abismo. Como disse a alguém, nestes momentos fazia da minha vida livros e cigarros, e deixo-me ir no ritmo da música e na volúpia da bebida que pede mais. E dispo-me das responsabilidades, da timidez, talvez de mim próprio, e anseio por aquilo que me preenche no aqui e agora, e procuro algo ou alguém que me leve no compasso dessa dança que extasia, esqueço o medo e dou-me ao profundo desejo do meu íntimo. Pensas talvez que este não sou eu... Nem sei se sou ou não. Mas está cá, bem ancorado, à espera que me queira tornar escravo desta loucura. E agora caminhando, sinto o mar suave e a brisa da manhã, penso se isto tem algum sentido. Neste tempo em que caminho por entre pessoas tão maravilhosas, amigos, estou bem, sinto-me em comunhão com eles e com o mundo. É óptimo poder partilhar com eles a areia da praia, a água do mar, a frescura e a alegria da noite. Há uma intimidade construída, uma proximidade conquistada, e basta-me que eles estejam à minha volta. Mas foi no meu interior que se instalou a dúvida. Serão as noites (e os dias) como esta que me satisfazem? Haverá mesmo felicidade aqui? Há outra voz, muito mais silenciosa, que murmura algo que não quero ouvir agora. Fala de liberdade, de eternidade, no fundo de felicidade. Chama-me Amado e diz que conhece e vive, comigo, a minha fragilidade. Hoje basta relembrar outros momentos em que Ele esteve lá. Basta pensar que fui chamado. Basta compreender as promessas feitas por Ele que dizem: "Comigo a teu lado não vacilarás". E sei que estou guardado na palma da Sua mão. Sei que hoje fui guardado daquilo que me esmagaria. Hoje, basta querer agarrar com força a mão que Ele me estende... E oiço... "Hoje se escutardes a voz do Senhor, não fecheis os vossos corações".»

P.S. Obrigado pela vossa presença nestes dias. Não vos trocava por nada desta vida. Sabem que vos trago e guardo com toda a amizade. E viva a "shisha"...

domingo, 27 de julho de 2008

Aguarda em jubilosa esperança que te manifeste a minha glória...

"Reservo para ti, no meu santuário, diz o Senhor, grandezas que a tua alma não pode atingir, por agora. São coisas que nem olho viu nem ouvido ouviu, nem jamais passou pelo pensamento dos homens, as que preparo para aqueles que me amam. Deixo cair, de tempos a tempos, no teu coração, uma luz repentina como a da estrela cadente que corta os espaços em fracções de segundo e se esvai, como se tivesse passado para lá do firmamento. Querias agarrá-la, mas não podes. Querias saboreá-la, mas ela fugiu sem te dar tempo. Não tenhas medo. na noite da tua fé, aguarda em jubilosa esperança que te manifeste a minha glória."

Luís Rocha e Melo, s.j., "Tu me seduziste e eu deixei-me seduzir"



N. Sra. de Entre-Águas - Padroeira de Benavila

Cheguei há pouco de uma Semana Missionária. Não sei o que dizer-vos sobre este tempo passado em Benavila (vila do concelho de Avis, Alto Alentejo). Será que se disser que fui e estou feliz chega? Como diz a oração, que partilho convosco e que me acompanhou durante os últimos dias, este foi um tempo em que o Senhor deixou cair no meu coração uma luz verdadeira, que me recordou como é bom segui-Lo. É, na verdade, uma luz que se esvai, mas deixa a sua marca em mim. Aprendi a viver em comunidade, lado a lado com pessoas tão diferentes, mas que me mostraram o que é ser irmão em Cristo. Descobri que devo ser fiel a Deus e a mim próprio para levar a Sua imagem aos outros, uma imagem verdadeira. Acima de tudo percebi que os meus propósitos não são importantes diante de Deus... apenas devo estar disponível para ser surpreendido por Ele, devo deixar que Ele faça maravilhas no meu coração. E em "jubilosa esperança", na alegria de ter sido tocado por Ele, continuo a caminhar de regresso a Casa.

domingo, 13 de julho de 2008

Sê Tu o semeador, a semente e o campo...

"Naquele dia, Jesus saiu de casa e foi sentar-Se à beira-mar. Reuniu-se à sua volta tão grande multidão que teve de subir para um barco e sentar-Se, enquanto a multidão ficava na margem. Disse muitas coisas em parábolas..."

Mt 13 - Passagem do Evangelho do XV Dom. do TC - 13/07

Quando ouvi pela primeira vez o Evangelho deste domingo esta passagem tocou-me de modo especial. Não é muito comum pensarmos em Jesus como um homem semelhante a nós, porque a Sua natureza divina é realmente essencial para O percebermos. Mas hoje tentei imaginar Jesus que saía de casa e que se sentava à beira-mar. Um gesto tão comum, partilhado por tantas pessoas e que eu mesmo já realizei. É bom poder olhar Jesus desta forma. Um Deus que se fez homem, um Deus que conhece todas as maravilhas do Universo, um Deus Criador, mas um Deus-Homem que contempla o mar, em silêncio, buscando as forças necessárias à Sua missão. Gosto de saber que o meu Senhor trilhou os caminhos de qualquer homem e renovou-os com o Seu jeito de amar, de sentir, de viver...

Senhor, semeador e semente, vem ao meu coração. A minha vida é tantas vezes um campo à beira do caminho, onde a Tua Palavra não fica, onde o meu coração duro não Te deixa permanecer. Quantas vezes não sou também o campo pedregoso que recebe a Tua Palavra com alegria, mas que não permite que te enraizes em mim, não deixa que sejas Senhor de tudo o que tenho e sinto... E quando os espinhos do sucesso, da dúvida, do prazer, do egoísmo crescem à minha volta, tantas vezes deixo que me sufoquem e que não me deixem o coração livre para Ti. Sê um semeador paciente. Amolece a terra e fecunda-a com o Teu Espírito, retira as pedras e arranca os espinhos, com paciência e misericórdia. Faz de mim um campo fértil, onde a Tua Palavra possa frutificar em abundância. Sê Tu o semeador, a semente e o campo, e na minha fraqueza faz brotar frutos de paz, alegria e amor...

"Porque a vós é dado conhecer os mistérios do reino dos Céus."

segunda-feira, 7 de julho de 2008

Pedaços de Alma...

"Há veleidades, Senhor, no íntimo de corações que te seguem. Não entenderam ainda que não podem, não devem tentar controlar os desígnios insondáveis do teu querer. Escute-se Ísaias com atenção: «os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, os meus caminhos não são os vossos caminhos». Revela-nos, Senhor, como não queres nem podes queres senão o bem maior para todos os homens. Ensina-nos a deixar-te agir à tua maneira, na alegria ou na tristeza, na saúde ou na doença, na vida ou na morte, e a dar crédito às hiperboles queridas a teu Filho: «nem um só cabelo cairá da vossa cabeça, sem a permissão do Pai do Céu». «Não temais, pequeno rebanho»."

Luís Rocha e Melo, s.j., "Tu me seduziste e eu deixei seduzir-me"

domingo, 6 de julho de 2008

Um dia conTigo...

Hoje foi dia de peregrinar até ao Santuário de Fátima. Uma espécie de conclusão do Ano Pastoral junto da Mãe, em jeito de acção de graças pelo ano e pelos frutos que o Senhor fez brotar entre nós. Foi um dia para partilhar, rezar, aprender...

Foi bom poder experimentar em mim as palavras que Jesus hoje nos dirige no Evangelho. Aprende-se muito com os pequeninos. E Ele próprio veio ao meu encontro nos pequeninos que hoje me rodearam e se entregaram, no seu jeito especial, nas mãos do Pai e de Maria. Gostei de ter no colo a Magda que fazia a sua humilde oração à Virgem na Capelinha das Aparições no fim do Terço, lembrando que o Reino pertence-lhes em primeiro lugar.


Este foi um dia para agradecer as amizades que Jesus criou entre nós e fortalecer os laços que Ele mesmo atou. Na diversidade de personalidades e feitios, pervaleceu uma busca sincera do amor do Pai.

Olhando a imagem de João Paulo II, peço ao Bom Deus que nos fortaleça e nos ensine a carregar o "jugo suave" dos ensinamentos de Cristo, de que o nosso anteior Papa foi exemplo.



Deixo estas fotos lembrando algumas pessoas especiais que não poderam acompanhar-nos, como sinal que, nos nossos corações foram também entregues ao Pai, na oração.

sábado, 5 de julho de 2008

"Naquele tempo, Jesus exclamou:«Eu Te bendigo, ó Pai, Senhor do céu e da terra,porque escondeste estas verdades aos sábios e inteligentese as revelaste aos pequeninos.Tudo Me foi dado por meu Pai.Sim, Pai, Eu Te bendigo,porque assim foi do teu agrado.Ninguém conhece o Filho senão o Paie ninguém conhece o Pai senão o Filhoe aquele a quem o Filho o quiser revelar.Vinde a Mim,todos os que andais cansados e oprimidos,e Eu vos aliviarei.Tomai sobre vós o meu jugoe aprendei de Mim,que sou manso e humilde de coração,e encontrareis descanso para as vossas almas.Porque o meu jugo é suave e a minha carga é leve»."


Mt 11, 25-30 (Evangelho do XIV Dom. do Tempo Comum- 06/05/08)




"Vinde a Mim"...

"Naquele tempo, Jesus exclamou:«Eu Te bendigo, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste estas verdades aos sábios e inteligentes e as revelaste aos pequeninos. Tudo Me foi dado por meu Pai. Sim, Pai, Eu Te bendigo, porque assim foi do teu agrado. Ninguém conhece o Filho senão o Pai e ninguém conhece o Pai senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar.Vinde a Mim, todos os que andais cansados e oprimidos, e Eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de Mim, que sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para as vossas almas. Porque o meu jugo é suave e a minha carga é leve»."

Mt 11, 25-30 (Evangelho do XIV Dom. do Tempo Comum- 06/05/08)



Gosto deste pedaço de Evangelho que escutamos neste Domingo. É bom poder sentir que o Reino está no coração de todos, principalmente dos simples e humildes. Descobrir esta presença criadora e transformadora dentro de nós, é tarefa do coração e não da razão. Apenas através do amor e da humildade perscutamos o silêncio de Deus em nós. Um silêncio que apela à confiança e à fé. Jesus diz-nos que a Fé é dádiva do Pai, é necessário saber acolhê-la e nela traçar o rumo do caminho até Ele. E, quando no caminhar surgem o medo, as trevas, a dor, a perda, o cansaço, a solidão, Jesus chama-nos a Ele, a descansar n'Ele, a adormecer no Seu regaço para que ao acordar a confiança do Seu rosto sorridente nos renove a força para o caminho. Gosto de saber que tenho n'Ele um porto de abrigo, onde Ele mesmo me ensina e molda à Sua imagem. Queria saber rezar como Jesus o faz neste Evangelho, com o coração agradecido e com a humildade de um filho que se entrega nas mãos do Pai. Queria descansar mais vezes no regaço do Senhor e aprender a transportar dentro de mim o "jugo" suave do Seu amor. E assim, caminhando passo-a-passo a seu lado entrego-me nas mãos ternas do Pai...




Esta é só uma noite para lembrar tantas noites em que a brisa suave, em que Ele se revela, tocou o meu rosto, e o brilho das "estrelas" me fez acreditar que n'Ele seria feliz.

segunda-feira, 30 de junho de 2008

Hoje, quero ser optimista :)

Há algum tempo que gosto desta música... lembra-me o tempo da partida, do adeus, quando ficou quase tudo por dizer e partilhar. Faz-me consciente do momento que se aproxima. Hoje não tenho medo. Já o tive e quase me levou a procurar outro sentido. Talvez tenha aprendido a esperar o tempo favorável, quase esquecendo as tempestades que se vão abatendo sobre mim, esforçando-me por minimizar os estragos e continuar a caminhar. A memória, tantas vezes traiçoeira, traz-me esses momentos exactamente quando menos preciso deles, e a tristeza penetra todos os lugares do meu interior, tornando mais negra a sombra que já esconde alguns sítios aqui dentro. E, quando deixo, quando perco o sentido voluntariamente apenas para não ter que encarar a realidade, a escuridão ocupa generosamente todos os espaços do meu íntimo e paralisa o meu "ser eu mesmo". Ela esteve comigo, dormiu comigo, acordou a meu lado, partilhou todos os momentos do meu dia... a escuridão é demasiado possessiva. Porém, quando acordo e sou inundado da luz da manhã, há uma outra Luz que me recorda que n'Ela serei mais eu. Compreendo então que uma relação com a escuridão não tem futuro, porque não me deixa ser livre. E aí há um rosto que sorri... o rosto do Pai que é Luz e Liberdade. E neste rosto espelham-se tantos outros rostos, cuja simples recordação me provoca um sorriso de ternura e amizade. E sem compreender nada, compreendo o sentido das coisas e do mundo, porque à pessoas especiais a reflectirem-No. Hoje, quero ser optimista. Quero ter a certeza que tudo obdece a uma razão, que tudo tem um sentido dado por Alguém Maior. Quero ser livre n'Ele. Acima de tudo, quero aprender a ser feliz como intrumento da Sua Presença, da Sua Paz, do Seu Amor. Sei que valerá a pena... porque "tudo vale a pena/ se a alma não é pequena."

sexta-feira, 13 de junho de 2008

"Assim deve brilhar a vossa luz..."

"Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos:«Vós sois o sal da terra. Mas se ele perder a força, com que há-de salgar-se? Não serve para nada, senão para ser lançado fora e pisado pelos homens. Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade situada sobre um monte; nem se acende uma lâmpada para a colocar debaixo do alqueire, mas sobre o candelabro, onde brilha para todos os que estão em casa. Assim deve brilhar a vossa luz diante dos homens, para que, vendo as vossas boas obras, glorifiquem o vosso Pai que está nos Céus."
Mt 5, 13-16 (parte do Evang. da Festa de S. António - 13 de Junho)


É curioso que já me tenhas falado por duas vezes com estas Palavras. Há algo nelas que me diz particularmente e Tu sabe-lo. Sabes que nesta semana foi importante ouvir-Te pronunciá-las, e nelas dares-me a força necessária para continuar o caminho. Nos últimos tempos, tantas coisas fizeram com que o "sal" fosse perdendo a força e a "luz" o brilho, tantos momentos pareciam mostrar que era preciso dar-me menos, ir-me retirando da comunidade. Às vezes parece que ao dar-me aos outros fico tão preso à reciprocidade dos meus gestos e sentimentos, que quando não correspondem ao meu ideal a tendência é para ficar paralisado e desistir. Mas Tu disseste que o "sal" não podia perder a força e que a "luz" devia iluminar "toda a casa", e eu compreendi que me pedes que permaneça no meu lugar. Pedes que dê tudo até ao fim, até ao dia em que os deixarei para seguir-Te de outro modo. Obrigado por seres farol na escuridão das noites em que ando à deriva nos mares do egoísmo, do medo, dos ídolos... Só quero pedir-te que o Teu Espírito me envolva e fecunde o meu coração. Que eu seja sal, para dar um sabor Teu aos que me rodeiam, que eu seja luz, para dar cor às vidas dos irmãos e através de mim, voltarem os seus rostos para Ti. Continuarei a escutar-Te, não deixes endurecer o meu coração, faz presença em mim...
Amo-Te.


Rogai por nós, Bem-Aventurado S. António,
para que sejamos dignos das promessas de Cristo. Amen.

sexta-feira, 6 de junho de 2008

Encontro de Jovens em Fronteira

O meu grupo de jovens organizou um Encontro para os jovens da nossa diocese, dia 28 de Junho, a começar pelas 14h00. O tema será "Viver é Cristo" (Gl 3, 27) e insere-se no início do Ano Paulino (entre 29 de Junho de 2008 e 29 de Junho de 2009)... para consultarem o programa vejam o link abaixo:

Os jovens que estiverem interessados em participar, e respectivos grupos, avisem-me por mail albm14@msn.com... Apareçam...!

terça-feira, 3 de junho de 2008

"Eu sei quanto resisto a escolher-Te"


"«Custa a crer que Deus nos revelaria a sua divina presença na vida de autodespojamento e humildade do Homem de Nazaré. Uma grande parte de mim procura influência, poder , sucesso e popularidade. Mas o caminho de Jesus é o do recato, da falta de poder e da pequenez. Não parece um caminho muito atraente. E, no entanto, quando penetrar na verdadeira, profunda comunhão com Jesus, descobrirei que é este caminho estreito que conduz à paz e à alegria verdadeiras.(...)


Continuo tão dividido. Desejo sinceramente seguir-te, mas quero igualmente seguir os meus próprios desejos e ainda dou ouvidos às vozes que falam de prestígio, de sucesso, de reconhecimento humano, de prazer, de poder e de influência. Ajuda-me a ficar surdo a essas vozes mais atento à tua voz, que me chama a escolher o caminho estreito...Em todos os momentos da minha vida tenho que escolher o teu caminho. Tenho de escolher pensamentos que sejam os teus pensamentos, palavras que sejam as tuas palavras e acções que sejam as tuas acções. Não existem nem tempos nem lugares sem escolhas. E eu sei quanto resisto a escolher-te. » - Henri Nouwen, em "A caminho de Daybreak"

in "Conhecer e Seguir Jesus" (http://www.seguirjesus.blogspot.com/)

segunda-feira, 26 de maio de 2008

Cruzando pontes moldadas por Ti

Não sei bem quando os nossos olhares se cruzaram pela primeira vez. Seguramente foi num daqueles dias em que tudo era estranho, confuso, distante. Mas o tempo dá um sentido único a tudo aquilo que vivemos. E os laços cresceram, tornaram-se fortes e duradouros, atados por Alguém maior. É curioso que nenhum de nós é igual a outro, mesmo à primeira vista. Talvez seja por isso que permanecemos juntos. Completamo-nos. É certo, que de um modo estranho, mas cada um é para o outro a porta para aquilo que falta em si próprio, é um modo de viver, partilhando, aquilo que sem o outro não poderíamos perceber e sentir. Hoje, somos irmãos, no coração, por tudo o que já vivemos juntos, por tudo o que partilhámos e sonhamos para nós, mas, acima de tudo, somos irmãos em Cristo, pelo Seu ideal de vida, no qual tentamos permanecer.

Olho para trás e agradeço, em silêncio. Comove-me a Providência com que tudo foi pensado e conduzido para nos enriquecer, para nos ensinar e corrigir, para nos ajudar a crescer, uns com os outros, segundo o plano de Outro. Penso no amanhã e tenho medo. Vejo, agora, mais claramente que algo se aproxima, rapidamente. Não quero chamar-lhe fim. Não o será para mim porque não o desejo. Gostava, sinceramente, que este fosse o início, a porta para mais uma jornada, em que somos chamados a permanecer juntos de uma outra forma. Chega o momento de buscar outros rumos, de lutar por uma felicidade que apenas depende de nós, que nos pede esforço, dedicação e, também, autonomia. Chega o momento em que cada um deve procurar o projecto de vida a construir e agarrá-lo. E este chega quando tudo parecia indicar que precisavamos uns dos outros para continuar o caminho. Tenho medo. Medo da solidão, do silêncio das vossas vozes, da falta dos vossos abraços, do calor das vossas palavras, da ausência da vossa felicidade e alegria... Mas acredito que permaneceremos de outro modo, é certo. Sempre que vivermos os ideais que construímos juntos, sempre que abrirmos as mãos para dar de nós, um pouco dos outros fluirá nesse gesto. A cada passo, a cada escolha, a cada palavra surgirá o outro, de quem colhemos parte para nos tornarmos maiores. Renasceremos uns nos outros, sem mesmo darmos conta disso. Ainda assim, conto com a vossa presença, próxima, amiga, íntima, como apredemos juntos. As nossas estórias entraram na grande História de Deus. E a sua dimensão eterna deixarnos-á gravados no coração uns dos outros, e no Seu coração.

Confio-vos ao Senhor, nas escolhas e nos rumos que traçaram, com Ele, até à Felicidade. Deixem que seja Ele a escrever nos vossos corações, os caminhos a percorrer, os ideais a viver, os sonhos a concretizar. Espero que possam dar àqueles que passarem pelas vossas vidas um pouco daquilo que deixei em vocês. Guardo-vos com um amor que só Deus pode construir...

ps. Confesso que sou brusco nos julgamentos. E não, não quero destruir felicidades. Mas temo quando isso pode tornar as pessoas dependentes e incapazes de escutar os outros, na ânsia de falar de si. Tenho medo da ausência da tua alegria saudável... Amigos? Por mim, para sempre. Rezo por vós... :)

domingo, 18 de maio de 2008

No silêncio brilha a "xama"...

enIrmãos: Sede alegres, trabalhai pela vossa perfeição, animai-vos uns aos outros, tende os mesmos sentimentos, vivei em paz. E o Deus do amor e da paz estará convosco. Saudai-vos uns aos outros com o ósculo santo. Todos os santos vos saúdam. A graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão do Espírito Santo estejam convosco.
2 Cor 13, 11-14


Queria escrever sobre a Palavra... não sai nada... É Ele que pede o silêncio. Silencio o coração, ouço a voz do Senhor, que vem como a "brisa suave". A Palavra é programa de vida. Cristo é a meta. A "Xama" arde, brilha, fortalece o chamamento e pede-me que me dê. Confio na presença d'Aquele que ama, junto de mim. Fico também junto d'Ele, sem perguntas, sem medos... Sei que chegará a hora em que o Espírito falará por mim, quando tiver que transmitir-lhe(s) o que a voz do Senhor me pediu... "Segue-Me". Sossegando o coração, confio e espero que Ele traga a coragem. Peço-Lhe que eu seja melhor, mais reflexo d'Ele mesmo... Senhor, és Tu que dás sentido à minha vida, é em Ti que eu sou mais eu porque me dou aos outros. Aqui me tens, inteiramente teu...

segunda-feira, 12 de maio de 2008

No colo da Mãe...

Maio. Mês das mães. Mês de Maria. Maria, a maior mãe.

Quero agradecê-La. Agradecer-Lhe o Sim, o coração inteiramente livre, a protecção que sinto na minha vida. E, nos dias cinzentos como hoje, em que é difícil um pouco de luz chegar às profundezas do nosso íntimo, Ela é a mãe em cujo colo descansamos, choramos, desabafamos, abrimos o coração à sua ternura e à sua forma de ser instrumento nas mãos d'Aquele que preenche inteiramente as nossas vidas.

Ajuda-me Mãe a entregar-me como tu... inteiramente... traz ao meu coração um pouco de céu... :)



segunda-feira, 5 de maio de 2008

eu e Tu...

Relembrando tantos com os quais vou contruindo pontes, na intimidade e na confiança... Agradecendo Àquele cuja ponte é a ligação mais "prioritária" da minha vida...

"Eu tenho o medo, tu tens a paz"... desejo do fundo do coração, pequeno e frágil, que "nunca caiam as pontes entre nós"...

segunda-feira, 28 de abril de 2008

"Não vos deixarei orfãos"

"Se fordes aquilo que deveis ser, pegareis fogo ao mundo inteiro!"
Santa Catarina de Sena

Espírito da Verdade, que desceste como fogo sobre o Teu povo, faz de mim um instrumento humilde e puro nas mãos do Pai... Que através de mim, muitos se deixem incendiar no fogo do Teu Amor e iluminar pela Tua Palavra, que comigo descubram a felicidade escondida em Ti... Espírito de Amor faz de mim um eterno apaixonado por Aquele que me seduz e me dá Vida...

domingo, 27 de abril de 2008

Vem Espírito

"Caríssimos: Venerai Cristo Senhor em vossos corações,prontos sempre a responder, a quem quer que seja, sobre a razão da vossa esperança. Mas seja com brandura e respeito, conservando uma boa consciência, para que, naquilo mesmo em que fordes caluniados, sejam confundidos os que dizem mal do vosso bom procedimento em Cristo. Mais vale padecer por fazer o bem, se for essa a vontade de Deus, do que por fazer o mal. Na verdade, Cristo morreu uma só vez pelos nossos pecados - o Justo pelos injustos - para nos conduzir a Deus. Morreu segundo a carne, mas voltou à vida pelo Espírito."

Hoje, durante a Eucaristia, a Palavra de Deus ecoou nas diversas vivências que tenho experimentado ultimamente. Tocou-me especialmente a segunda leitura (1 Pedro 3, 15-18), porque fala da forma como devemos estar no mundo e na sociedade como cristãos. O Evangelho foi, também, luz para a caminhada da semana que começa. A promessa do Espírito que renova e actualiza a presença de Jesus, nas nossas vidas, nos nossos dias, é fonte de alegria e de confiança.

Ultimamente, a paz fora da oração e da liturgia tem sido difícil. A forma de conciliar a fé com a vida do dia-a-dia é-me ainda desconhecida, porque tantas vezes a minha opção por Cristo tem levado a que outros, que não a compreendem na totalidade, se afastem, se sintam trocados. Não queria criar divisões, afastar pessoas importantes, partir laços especiais... Mas quando me pedem que escolha entre eles e Cristo, não posso recusar Aquele que me dá a felicidade e a alegria. Não quero julgar aqueles que escolhem outros caminhos, não me quero tornar moralista apenas porque penso, sinceramente, que a minha opção é a correcta, mas não me peçam que cale o amor que tenho Aquele que me seduziu, a Palavra que transmite a paz e a alegria, força no caminho... Gostava que todos pudessem estar apaixonados por Cristo, que todos sentissem o Seu amor em suas vidas. É Ele a "razão da nossa esperança"... Perdoem-me se alguma vez vos impus alguma coisa, mas a missão que recebi d'Ele é o anúncio e o testemunho fiel... Não são os "restos", são pessoas importantíssimas na minha caminhada, o meu tesouro, e de modo nenhum, vos quero trocar mas tenho prioridades... a minha prioridade é ser feliz, e o caminho é Cristo, seguir as Suas pegadas, lado a lado convosco, perseguindo o ideal do amor e da entrega...

Espírito da Verdade, preenche-me de Ti, confirma as minhas palavras e os meus gestos, une-me aqueles que amo, pelos Teus laços eternos, actualiza em mim a presença de Cristo, e faz da minha vida, uma vida para Deus...

sábado, 26 de abril de 2008

"Eu pedirei ao Pai, que vos dará outro Defensor..."

"Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos:«Se Me amardes, guardareis os meus mandamentos. E Eu pedirei ao Pai, que vos dará outro Defensor, para estar sempre convosco:o Espírito da verdade, que o mundo não pode receber, porque não O vê nem O conhece, mas que vós conheceis, porque habita convosco e está em vós. Não vos deixarei órfãos: voltarei para junto de vós. Daqui a pouco o mundo já não Me verá, mas vós ver-Me-eis, porque Eu vivo e vós vivereis. Nesse dia reconhecereis que Eu estou no Pai e que vós estais em Mim e Eu em vós. Se alguém aceita os meus mandamentos e os cumpre, esse realmente Me ama. E quem Me ama será amado por meu Pai e Eu amá-lo-ei e manifestar-Me-ei a ele»."

Jo 14, 15-21 [Evangelho do VI Dom. da Páscoa]


"Peço-Te, sonha comigo mesmo quando não sou quem sonhas... Cresce comigo por pequenos que sejam os passos... Vive comigo mesmo que às vezes pareça fugir...Meu Deus, só Te peço que me ames... assim."

do blog: http://apenasoracao.blogspot.com/

quarta-feira, 23 de abril de 2008

...tocar-Te no silêncio...

"Nós temos necessidade de encontrar Deus, e Ele não se encontra no meio do ruído e da agitação. Deus é amigo do silêncio. Vê-de como a natureza - as árvores, as flores, a erva - crescem em silêncio. Vê-de as estrelas, a lua, o sol, como se movem em silêncio. Não é nossa missão dar Deus aos pobres dos bairros-de-lata? Não um Deus morto, mas um Deus vivo e que ama. Quanto mais recebemos no silêncio da oração, mais daremos na nossa vida activa. Temos necessidade do silêncio para tocar as almas. O importante não é o que dizemos mas o que Deus nos diz e diz por meio de nós. Todas as nossas palavras são vãs se não vêm do interior. As palavras que não dão a luz de Cristo aumentam a escuridão."
Madre Teresa de Calcutá

Hoje quero silenciar o meu coração... quero tanto escutar a voz do Senhor que me sustenta e me indica o caminho. Não quero um coração perturbado, um coração com medo de ser rejeitado, um coração cheio de ruídos e sussurros de escuridão. Silêncio... sim ainda mais do que aquele que já é hábito reconhecerem em mim, mas um silêncio verdadeiramente interior, que gera a paz de Deus. Desejo deixar que as palavras de Cristo abundem na minha vida, para que a Sua luz brilhe por meio de mim, para O levar a quem já esqueceu o amor com que Ele seduz, para renovar a confiança naqueles que não encontram o caminho, para dar a esperança aos que procuram a Sua vontade e um projecto de amor... Como gostava de deixar todos apaixonados por Cristo, como Ele me deixou quando entrou na minha vida. Deixo as palavras e entrego-me ao silêncio, onde a Sua presença toca a minha alma e onde ressoa a voz d'Aquele que me pede: "permanece em Mim"...

quinta-feira, 17 de abril de 2008

"Estás comigo..."

"Estás comigo. Tu sondas-me e conheces-me. Tu penetras-me, envolves-me e amas-me. Estás comigo. Estou contigo. Tu comunicas-me a existência e a consistência. És a essência da minha existência. Em Ti existo, me movo, sou. Estás comigo. As trevas não Te ocultam, as distâncias não te separam.

Às vezes tenho vontade de gritar: estou sozinho. Ninguém gosta de mim. A seguir chega a tua resposta: estou contigo. Não tenhas medo. Estás à minha volta; estou à tua volta. Estou dentro de Ti; estás dentro de mim. Com a tua presença activa, paterna e vivificante, alcanças até as mais remotas e profundas zonas da minha intimidade. Em Ti se alimentam as minhas raízes. Com a Tua mão direita me cobres e com os teus braços me envolves.

Estás comigo. Sabes perfeitamente quando estou sentado, a andar ou a dormir. Os meus caminhos são-Te familiares. Par onde quer que eu vá, estás comigo. Onde eu estou, estás Tu. Onde Tu estás, estou eu. Sou filho da imensidão. És a alma da minha alma. És a vida da minha vida. Mais eu que eu próprio. Mais interior que a minha própria intimidade. És aquela realidade total e totalizadora dentro da qual estou completamente submerso. Com a tua força vivificadora, entras em tudo o que sou e que tenho. Estás comigo."

Ignacio Larrañaga, «Nas mãos de Deus»

segunda-feira, 14 de abril de 2008

"Basta-te a minha graça"


"Com muita frequência defendes-te da maior das graças, a graça da fraqueza, apesar de S. Paulo ter escrito: «Basta-te a minha graça, pois é na fraqueza que a minha força se revela totalmente. Por conseguinte, prefiro gloriar-me das minhas fraquezas para que habite em mim a força de Cristo.(...) Pois quando me sinto fraco, então é que sou forte.» (2Cor 12,9-10). O teu poder e a tua força, mais tarde ou mais cedo, terão que ruir. Na realidade não há qualquer força que te pertença, porque ela é um dom; um dom do qual te aproprias e que, por isso, te deve ser tirado. O Senhor guarda o Seu tesouro em frágeis vasos de argila, para se reconhecer que esse incomparável poder vem de Deus e não de nós (cf. 2Cor 4,7)."
Tadeusz Dajczer, Meditações sobre a Fé

Na minha imensa fraqueza só peço, Senhor, dá-me um coração humilde e puro...

domingo, 13 de abril de 2008

"Ele chama cada das suas ovelhas pelo seu nome.."


O Senhor é meu pastor: nada me falta.
Leva-me a descansar em verdes prados,
conduz-me às águas refrescantes
e reconforta a minha alma.
Ele me guia por sendas direitas por amor do seu nome.
Ainda que tenha de andar por vales tenebrosos,
não temerei nenhum mal,
porque Vós estais comigo:
o vosso cajado e o vosso báculo
me enchem de confiança.
Para mim preparais a mesa
à vista dos meus adversários;
com óleo me perfumais a cabeça
e o meu cálice transborda.
A bondade e a graça hão-de acompanhar-me
todos os dias da minha vida,
e habitarei na casa do Senhor
para todo o sempre.
Salmo 22(23)

Bom Pastor, Porta das ovelhas, Senhor Jesus, quero dizer-te que gosto muito de Ti. Sim, hoje quero ser simples e sincero, quero aprender a tua humildade e deixar-me conduzir por Ti, como a ovelha frágil e sedenta se deixa conduzir pelo pastor. Como ovelha pequenina, carrega-me aos ombros durante os caminhos mais difíceis e leva-me até às pastagens da felicidade, da Tua felicidade. Quero apenas permanecer no teu colo, Bom Pastor, e esquecer-me dos medos e das inquietações que me incomodam, sonhar com as águas puras que correm do Teu coração, e permitir que me preenchas de Ti, que o teu amor transborde na minha vida. Percorramos juntos, os teus caminhos. Vai à minha frente para que possa seguir-Te até à terra da Promessa e lá descansar nos pastos da vida em abundância que nos preparaste. Pastor da minha vida, peço-te, hoje e para sempre, que eu faça do meu coração a tua casa e, assim, poça saborear a tua Presença e viver plenamente no teu amor... Apascenta a minha alma!

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Sonhados por um Deus apaixonado... :)


"– Francisco, quem é que terá mais possibilidade de te ajudar? O Senhor ou o servo? O rico ou o pobre?
– O Senhor; o rico.
– Nesse caso, porque é que vais trocar o Senhor pelo servo, a riqueza de Deus pela pobreza do homem? – insistiu a voz divina.
Senhor, que quereis que eu faça?
– Volta para a tua terra – diz-lhe então o Senhor.
Ao amanhecer, a toda a pressa voltou para Assis, cheio de alegria e confiança. Começava a tornar-se um modelo de obediência: só estava a espera de conhecer claramente a vontade do Senhor.»"

Relato da vocação de S. Francisco de Assis

No próximo Domingo, o do "Bom Pastor", celebramos o 45º Dia Mundial de Oração pelas Vocações. Coloquei aqui o relato da vocação de Francisco de Assis, ocorrido em 1205, diante da Cruz de S. Damião (imagem), porque gosto particularmente da disponibilidade que Francisco manifestou ao perguntar: "Senhor que queres que eu faça?", e da entrega absoluta que desde aí viveu.

Ao experimentar caminhar como Povo de Deus, como Corpo Místico de Cristo, em Igreja, tenho compreendido com maior clareza a importância das vocações no caminho individual e comunitário de cada um. Vocação, chamamento, palavras que tentam expressar o Mistério do sonho de Deus para cada pessoa criada e amada por Ele. Sim, é o amor de Deus que justifica o Projecto por Ele idealizado para mim, para nós, como caminho de felicidade e realização pessoal, e não só pessoal mas, sobretudo, comunitária. Cada vocação é instrumento de serviço aos outros, é oportunidade de ser feliz fazendo os outros felizes, é missão de levar o Evangelho a todos, de acordo com a forma com que somos chamados a viver. Perceber aquilo a que somos chamados é descobrir o nosso lugar no mundo, é conseguir encaixar a nossa vida no imenso Mistério do amor de Deus e da salvação de cada homem. É descobrir a resposta adequada a dar a um Deus apaixonado pelos homens e que, por todos os meios, nos tenta seduzir e cativar, porque nos ama.


Jesus, Deus apaixonado pelos homens, Tu que me buscas e cativas em cada momento, quero fazer minhas as palavras de S. Francisco: "Senhor que queres que eu faça?" Mostra-me os caminhos que sonhaste para mim, no Teu projecto de amor. Envia o Teu Espírito e revela-me como posso ser feliz, dando-me, entregando-me nas Tuas mãos, para servir um Povo que caminha ao Teu encontro e descobrir em cada coração a Tua presença. Desejo, Bom Deus, deixar-me seduzir pelo Teu amor e viver, cada dia, apaixonado por Ti, na resposta confiante à Tua promessa. E ainda que o coração vacile e o medo se entranhe no meu íntimo, ajuda-me a ser fiel ao Teu chamamento e a abandonar-me inteiramente no Teu amor, dá-me a Tua mão para caminharmos lado a lado, para que eu seja só Teu. O Teu olhar cativa-me Jesus... Amo-Te e ponho todo o meu ser, tudo o que sou e tenho, à mercê da Tua vontade santa... "Faz de mim o que quiseres"... Sou inteiramente TEU...

"Meu Pai,
Eu me abandono a Ti,
Faz de mim o que quiseres.
O que fizeres de mim,Eu Te agradeço.
Estou pronto para tudo, aceito tudo.
Desde que a Tua vontade se faça em mim
E em tudo o que Tu criaste,
Nada mais quero, meu Deus.
Nas Tuas mãos entrego a minha vida.
Eu Te a dou, meu Deus,
Com todo o amor do meu coração,
Porque Te amo.
E é para mim uma necessidade de amor dar-me,
Entregar-me nas Tuas mãos sem medida
Com uma confiança infinita
Porque Tu és... Meu Pai!"

Charles de Foucauld

sábado, 5 de abril de 2008

"Não nos ardia o coração?"

"Dois dos discípulos de Jesus iam a caminho duma povoação chamada Emaús.(...) Jesus aproximou-Se deles e pôs-Se com eles a caminho. Mas os seus olhos estavam impedidos de O reconhecerem.(...) Ao chegarem perto da povoação para onde iam, Jesus fez menção de ir para diante. Mas eles convenceram-n’O a ficar, dizendo:«Ficai connosco, porque o dia está a terminar e vem caindo a noite». Jesus entrou e ficou com eles. E quando Se pôs à mesa, tomou o pão, recitou a bênção, partiu-o e entregou-lho. Nesse momento abriram-se-lhes os olhos e reconheceram-n’O. Mas Ele desapareceu da sua presença. Disseram então um para o outro:«Não ardia cá dentro o nosso coração,quando Ele nos falava pelo caminho e nos explicava as Escrituras?»"
Evangelho do III Dom. da Páscoa (Lc 24)


Ao ler estas passagens do Evangelho de amanhã recordei-me como toda a minha vida faz parte de um grande Mistério, pensado por Deus desde a eternidade. Cada vez que compreendo a Palavra, que se encadeia por completo na minha existência, percebo a grandeza de Deus. É este Deus, que se transmite através da Palavra e dela faz surgir a vida, que me sonhou e construiu para mim um caminho de liberdade e felicidade.

Ao pensar nos discipulos que voltavam a Emaús, recordo as inumeras vezes que regressei a casa caído na tristeza de um sonho destruído, desiludido com alguém que considerava intimo, com medo de um futuro que pensava falhado. São próprios da nossa humanidade estes momentos de solidão, de medo, de dor, de perda. Mas eis que, num momento, surge alguém no caminho, um desconhecido simultaneamente familiar, que vai dando aos discipulos o seu testemunho, que os vai introduzindo no mistério do Deus que sofre porque ama, do Deus que, porque sofreu, venceu a dor. Tão próximo se torna aquele Alguém, que os discipulos abrem as portas de sua casa à presença do desconhecido e sentam-se com Ele à mesa. E é aqui, na intimidade da mesma mesa, que Ele parte o pão e Se dá por inteiro àqueles que caminharam com Ele. É aqui que os olhos dos discipulos "se abrem" e eles O reconhecem no pão repartido por amor, Ele que desapareceu da sua vista mas permaneceu no pão partilhado.

Compreendo a surpresa dos discipulos ao reconhecerem o Mestre. Também eu já a senti, tantas vezes ao longo do caminho. Quando caminho com tantos irmãos que se vão dando e repartindo pelos outros, Ele aí está. Quando ouço a Palavra e persinto o sussurrar da Sua voz no meu interior, Ele aí está. Quando comungo do mesmo Pão que naquela tarde os discipulos receberam, Ele aí está. Quando deixo o meu egoísmo e estou disponível para o outro, Ele aí está. Quando contemplo a beleza do mar, do pôr do sol, da face daqueles que amo, a simplicidade da paisagem que avisto da minha janela, Ele aí está!

E na imensidão dos sentimentos de cada dia, no renunciar a um sonho para ter o coração livre para Ele, no cansaço feliz de quem se deu a alguém, na busca dos sinais da Sua vontade, no amor daqueles que estão próximos, só posso perguntar: "Não ardia cá dentro o nosso coração,quando Ele nos falava pelo caminho?"

quarta-feira, 2 de abril de 2008

"Colhe o dia, porque és ele."

"Uns com os olhos postos no passado,
Vêem o que não vêem; outros, fitos
Os mesmos olhos no futuro, vêem
O que não pode ver-se.

Porque tão longe ir pôr o que está perto-
A segurança nossa? Este é o dia,
Esta é a hora, este é o momento, isto
É quem somos, e é tudo.

Perene flui a interminável hora
Que nos confessa nulos.
No mesmo hausto
Em que vivemos, morreremos. Colhe
O dia, porque és ele."
Ricardo Reis


«Ó Cristo ressuscitado!
Também nós temos que ressuscitar contigo;
Tu escondeste-Te à vista dos homens e nós temos que seguir-Te;
regressaste para o Pai e temos que procurar que a nossa vida “esteja escondida contigo em Deus”…
É obrigação e privilégio de todos os teus discípulos, Senhor,
ser elevados e transfigurados contigo;
é privilégio nosso viver no céu
com os nossos pensamentos, aspirações, desejos e afectos,
ainda que permanecendo na carne…
Ensina-nos a “aspirar às coisas do alto” (Col 3,1),
demonstrando assim que Te pertencemos,
que o nosso coração ressuscitou contigo
e em Ti está escondida a nossa vida.»

J.H. Newman

terça-feira, 1 de abril de 2008

"É preciso morrer e nascer de novo."


Num tempo em que meditamos a vida, a ressurreição, é bom pensar no significado de todos estes conceitos na minha e na nossa existência. A História da Salvação, ou seja, o caminho através do qual Deus nos introduziu no Seu conhecimento e na Sua Vida, não deve ficar fora de nós, como um facto já consumado. Ele revelou-Se a nós para nos mostrar como ser felizes n'Ele e com Ele, e as Suas palavras e gestos são para nós exemplo de felicidade. Com a Ressurreição de Jesus acontece o mesmo... esta não é um acontecimento passado, mas um sinal de Vida para nós, para actualizarmos em nós mesmos.

Ao pensar em vida tenho sempre que pensar em morte. Por vezes encaramos a morte apenas como o fim da vida, como desfecho de um ciclo natural, como meta para chegar a algo melhor. A morte é mais que isso... Com a Ressurreição do Senhor a morte tornou-se Páscoa, que significa "passagem". A morte converte-se assim em Passagem, em porta entre duas realidades distintas, entre o humano e o divino, entre a fragilidade e a força, entre o ódio e o amor...

Regressado da ilha (Tenerife), acredito que a morte é o processo mais natural da vida! Esta acontece em cada momento, quando passamos do que éramos ao que somos, quando apagamos alguém da nossa vida e fazemos entrar uma nova pessoa, quando percebemos o que somos e queremos ser mais. Percebi que a fonte da felicidade é única, o resto é lixo, como diz S. Paulo. Tento evitar morrer passando para algo ainda pior, o que tantas vezes é inevitável, mas quero mesmo é passar de mim para Ele. É quando quero o que Ele não quer, quando só penso em mim, quando escolho novas filosofias, quando adoro os outros "deuses", quando Ele não é prioridade, que permaneço na morte. E ainda que o meu egoísmo fale tão alto que me ensurdeça, acredito profundamente que Aquele que me ama me salvará e me dará a Sua vida...

Queria caminhar contigo mas é só conTigo que sou feliz... Quero ser aquilo que Tu queres... :)

ps. Gostei imenso de partilhar esta semana com vocês "estrelinhas", com todos mesmo os que estiveram no coração ;)

domingo, 23 de março de 2008

...ao encontro do Ressuscitado!...

Contigo subimos à cruz,
Contigo na Tua morte, baptizados;
em Ti nós estamos, ó Cristo, já ressuscitados
e no seio da Pai reencontrámos vida.

Faz com que a nossa morte seja absorvida
pela luz gloriosa da Páscoa;
e, já mortos pela Tua própria morte,
vivamos em Ti, que és nossa vida.

Hino Pascal


Depois de algum tempo de ausência (justificada pelos chamamentos de Alguém maior), volto hoje, para me ausentar novamente durante a próxima semana, na qual vou estar em viagem de finalistas... ;)

"Este é o dia que fez o Senhor"... Este é o Dia dos dias, é o momento da História no qual encontramos a fonte da nossa esperança e a razão de ser da nossa vida cristã. Cristo ressuscitou! É esta a base da nossa alegria, o ponto de partida do nosso caminho rumo a Ele, que nos chama a ser felizes no Seu amor.

Desejo a todos uma Santa Páscoa... Que, pela força do Espírito do Senhor, tenhamos a coragem de ir ao encontro de Cristo Ressuscitado, em cada irmão, em cada momento, em cada lugar, para podermos viver em comunhão com Deus, no Seu amor!

sexta-feira, 14 de março de 2008

...viver a Tua cruz



Chegamos à última sexta-feira da Quaresma... de hoje a uma semana celebramos já a Paixão do Senhor, dentro do Tríduo Pascal (3 dias em que celebramos a morte, sepultura e Ressurreição do Senhor). Neste tempo, é comum encontrármos celebrações carregadas de tristeza, de pessoas de semblante carrancudo, de palavras que incentivam um dolorismo estéril. É essencial preservar as tradições populares, mas é também fundamental dar-lhe um sentido evangélico.

Meditar, celebrar e viver a Paixão e Morte de Jesus não é deixarmo-nos invadir de tristeza, não é resvalarmos para um sofrimento auto-infligido. É, acima de tudo, sentirmos uma ALEGRIA imensa por sabermos que temos um Deus, amigo e companheiro, que partilha os nossos sofrimentos e dores. É perceber o profundo AMOR com que Aquele, que não tinha que sujeitar-se à morte, a enfrentou para dela nos libertar. Assumindo uma atitude de ENTREGA nas mãos do Pai, lutando para que em nós se cumpra a Sua vontade, tomamos, desde logo, parte na Cruz de Cristo. Para compreender e viver o mistério da Cruz não devemos desprezar e revoltarmo-nos com o sofrimento, nem assumi-lo como fonte da nossa redenção, pois são ambas perspectivas não vividas por Jesus. Devemos, sobretudo, perceber que escolher o Amor traz muitas vezes o sofrimento associado, que deve ser vivido na perspectiva da entrega incondicional. Viver a Paixão e a Morte do Senhor é ter a coragem de morrer, de libertarmo-nos de tudo o que nos oprime, para nascer de novo, para uma vida de Homem Novo, repleta do Espírito, revestidos de Cristo, ainda que por Ele tenhamos que enfrentar a dor... Tudo isto só é válido se abrimos os nossos corações Aquele que morreu por nós, e aceitarmos viver e morrer por AMOR...

terça-feira, 11 de março de 2008

...ser Teu..

Carta a quem gostaria de seguir Cristo


"No Evangelho, ouvimos o chamamento de Jesus: «Segue-me!» Será possível responder-lhe com um compromisso para toda a vida?
Em todos nós há o desejo de um futuro feliz. Mas podemos ter a impressão de ser condicionados por muitos limites e por vezes ser surpreendidos pelo desânimo.
No entanto, Deus está presente: «O Reino de Deus está próximo» (Marcos 1,15). A sua presença torna-se perceptível quando assumimos as situações da nossa vida tal como elas são, de forma a criar a partir do que existe.
Ninguém gostaria de se atolar em sonhos de uma vida idealizada. Aceitemos aquilo que somos e também o que não somos.
Procurar um futuro feliz implica fazer escolhas.
Há pessoas que assumem opções corajosas para seguir Cristo na sua vida de família, na sociedade, num compromisso pelos outros. Também há quem se interrogue: como seguir Cristo escolhendo o caminho do celibato?
Eu gostaria muito de encorajar aqueles que se deparam com a questão de uma escolha para sempre:
Perante um compromisso destes, pode acontecer que hesites. Mas, indo mais ao fundo, encontrarás a alegria de te entregar inteiramente. Feliz aquele que não se abandona ao medo, mais sim à presença do Espírito Santo.
Talvez seja difícil acreditares que Deus te chama pessoalmente e que espera que tu o ames. A tua vida é preciosa para ele.
Chamando-te, Deus não te prescreve o que deves fazer. O seu chamamento é antes de mais um encontro. Deixa-te acolher por Cristo e descobrirás o caminho a seguir.
Deus chama-te à liberdade. Não faz de ti um ser passivo. Pelo seu Espírito Santo, Deus habita em ti, mas não se substitui a ti. Pelo contrário, ele desperta energias insuspeitas.
Jovem, podes ter medo e ser tentado a não escolher, para guardar todas as possibilidades em aberto. Mas como poderias realizar-te se permaneceres na encruzilhada?
Aceita que haja em ti uma espera não realizada e mesmo questões que não estão resolvidas. Confia-te com um coração transparente. Há na Igreja pessoas que te podem escutar. Ser escutado desta forma, ao longo do tempo, há-de ajudar-te a discernir como te podes entregar totalmente.
Não estamos sozinhos a seguir Cristo. Somos levados por esse mistério de comunhão que é a Igreja. Nela, o nosso sim torna-se louvor.
O louvor pode ser hesitante, pode surgir até da nossa miséria, mas há-de tornar-se pouco a pouco em fonte de alegria que jorra para toda a nossa vida."




está tudo dito... vale a pena amar-Te até ao fim... :)