quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Intimidades...

Poderei abrir-vos hoje o coração? Talvez o faça, prometendo ser apenas eu próprio... A propósito disto mesmo é que vos quero falar. Já se sentiram alguma vez dilacerados nas vossas profundidades por aquilo que são vocês próprios em contraste com o que desejavam ser, com os vossos sonhos e ilusões? Não quero dizer que os sonhos, as ilusões, não sejam parte do nosso ser nós próprios, mas há um cantinho profundo, onde reside a essência daquilo que sou, juntamente com as interrogações existenciais e com as respostas que tento dar-lhe. Acerca de tudo isto escrevo, abaixo, em jeito de diário... eu próprio... íntimo....


«23/08/2007 - Algures junto ao mar

Esta noite, esta semana... onde é que isto entra no plano traçado? Se o tivesse visto anteriormente diria seguramente que esta estrada não estava no meu "mapa". Não penses em estradas proibidas nem em caminhos extraordinários... não, pensa apenas em banalidades, que é disso que se trata. Mas banalidades que mexem cá dentro e dilaceram o coração porque me fazem pensar quem sou eu afinal. O que quero? O que ou quem procuro? Hoje estou dividido entre as vozes que ressoam cá dentro, tantas e tão diferentes que é impossível não ouvir. Talvez ensurdeça e me deixe levar pela loucura. Talvez não. Penso que tiro férias de tudo, de mim mesmo, de Deus... E aqui dou espaço a que entre tudo, o bom e o mau. E volta a interrogação: quem sou? Para onde quero ir? Vejo, agora, que me deixo levar na corrente e perco a minha liberdade, mas é tão inebriante que não sei se quero sair deste abismo. Como disse a alguém, nestes momentos fazia da minha vida livros e cigarros, e deixo-me ir no ritmo da música e na volúpia da bebida que pede mais. E dispo-me das responsabilidades, da timidez, talvez de mim próprio, e anseio por aquilo que me preenche no aqui e agora, e procuro algo ou alguém que me leve no compasso dessa dança que extasia, esqueço o medo e dou-me ao profundo desejo do meu íntimo. Pensas talvez que este não sou eu... Nem sei se sou ou não. Mas está cá, bem ancorado, à espera que me queira tornar escravo desta loucura. E agora caminhando, sinto o mar suave e a brisa da manhã, penso se isto tem algum sentido. Neste tempo em que caminho por entre pessoas tão maravilhosas, amigos, estou bem, sinto-me em comunhão com eles e com o mundo. É óptimo poder partilhar com eles a areia da praia, a água do mar, a frescura e a alegria da noite. Há uma intimidade construída, uma proximidade conquistada, e basta-me que eles estejam à minha volta. Mas foi no meu interior que se instalou a dúvida. Serão as noites (e os dias) como esta que me satisfazem? Haverá mesmo felicidade aqui? Há outra voz, muito mais silenciosa, que murmura algo que não quero ouvir agora. Fala de liberdade, de eternidade, no fundo de felicidade. Chama-me Amado e diz que conhece e vive, comigo, a minha fragilidade. Hoje basta relembrar outros momentos em que Ele esteve lá. Basta pensar que fui chamado. Basta compreender as promessas feitas por Ele que dizem: "Comigo a teu lado não vacilarás". E sei que estou guardado na palma da Sua mão. Sei que hoje fui guardado daquilo que me esmagaria. Hoje, basta querer agarrar com força a mão que Ele me estende... E oiço... "Hoje se escutardes a voz do Senhor, não fecheis os vossos corações".»

P.S. Obrigado pela vossa presença nestes dias. Não vos trocava por nada desta vida. Sabem que vos trago e guardo com toda a amizade. E viva a "shisha"...