segunda-feira, 10 de maio de 2010

"Amados por esse amor eterno,
pressentimos que a nossa resposta é antes de mais abandonarmo-nos.
E assim, uma sede enche a nossa alma:
sede de abandonar tudo em Deus.

[...]

É pelo dom da nossa vida
que Deus espera que em nós se tornem perceptíveis o fogo e o Espírito.
Sim, o seu amor é um fogo.
Por muito pobres que sejamos,
não apaguemos o fogo, não apaguemos o Espírito.
a muito humilde confiança da fé propaga-se como o fogo,
de uma pessoa à outra."
[Irmão Roger de Taizé]

A nossa liberdade, de homens e mulheres criados pelo Amor para amar, é o campo onde se joga o sentido da existência. A liberdade humana abre-nos infinitas possibilidades de realização pessoal e de verdadeira humanização, mas pode tornar-se também o lugar onde nos condenamos a uma vida medíocre e desfiguramos a beleza da nossa dignidade. O sentido radical da existência descobre-se e cumpre-se nas opções que, em liberdade, assumimos.  Apesar dos condicionalismos que colocam o absoluto da liberdade fora do nosso alcance, somos livres e este é dom mais excelente que Deus oferece ao ser humano, na medida em que é sinal de um amor verdadeiro, do amor d'Aquele que deixa o amado crescer e construir-se em liberdade. É comum dizermos que o Senhor tem um projecto de felicidade para nós, é comum dizermos que é necessário aderir a este projecto para encontrarmos a nossa identidade mais verdadeira e promovermos a causa da humanização da pessoa. No entanto, isto só tem um sentido concreto quando percebemos que o projecto que Deus tem para oferecer-nos é um projecto inacabado, na medida em que é na liberdade das nossas escolhas que somos chamados a dar-lhe um rosto único, irrepetível e insubstituível, moldado na estreita comunhão entre cada um de nós, o outro e o Senhor.

A prévia dissertação serve apenas para introduzir uma certeza muito pessoal: quero colocar a minha inteira liberdade na tarefa de aprender a amar, buscando assumir a vontade de Deus como pedra angular do meu caminho. A consciência da minha pobreza, da minha pequenez não me impede de desejar ser de Deus com toda a minha liberdade. E, de um modo muito especial, a minha pequenez impele-me a confiar ainda mais no Senhor, pois nunca poderei chegar a ser o que Ele é sem que seja Ele a mostrar-me o caminho; ainda mais, a caminhar à minha frente. Num tempo de particular confronto com o modo de ser discípulo com outros que não escolhi, num momento em se debatem interesses, vontades e caprichos no seio da comunidade que devo assumir como família, tenho a minha esperança na palavra do Apóstolo:

"Sei em quem pus a minha confiança"
[2 Tm 1,12]

domingo, 2 de maio de 2010

Mãe,

Precisava do teu silêncio e da tua humildade. Queria olhar o mundo e os outros com a tua atenção e ternura. Desejava que o meu rosto e a minha vida transparecessem uma serenidade alegre e confiante como a tua...

Há desafios que nos são colocados e aos quais só podemos responder pondo em questão toda a nossa vida, estendendo os nossos horizontes até ao infinito e confiando, confiando imensamente em Deus. No encontro com Ele, por entre os pequeninos passos que vou dando, descubro esta urgência em apaixonar-me cada vez mais. Viver apaixonado e não ter medo de me abandonar à vontade do Amor: não me deparo com um desafio maior.

Olhar-te, Mãe, é contemplar este desafio tornado vida e perceber que também eu posso chegar a gerar para o mundo o Deus Connosco. Ao contrário do que às vezes penso, isto não significa nem sucesso ou fama, nem poder ou influência. Como em ti, Maria, ser de Deus para dá-l'O a todos é algo que acontece no silêncio e cresce no segredo do coração inteiramente consagrado.

Estou quase certo que também não percebeste tudo isto à partida. Experimentando a perversidade do meu enorme egoísmo e a atracção permanente pelo pecado da soberana auto-sufiência, espero ir saboreando as escondidas vitórias do amor.

Não deixes que eu seja um filho mimado e preguiçoso. Todos os filhos gostam de colo e eu também. Não permitas, porém, que isso seja desculpa para não crescer. Que os teus mimos me tornem um homem que, na sua liberdade, aprendeu a escolher ir para além de si, encontrando nos outros e no Outro a realização plena da sua vida.

Totus tuus, Maria... Inteiramente teu, Maria. E teu, de Cristo...