sábado, 5 de abril de 2008

"Não nos ardia o coração?"

"Dois dos discípulos de Jesus iam a caminho duma povoação chamada Emaús.(...) Jesus aproximou-Se deles e pôs-Se com eles a caminho. Mas os seus olhos estavam impedidos de O reconhecerem.(...) Ao chegarem perto da povoação para onde iam, Jesus fez menção de ir para diante. Mas eles convenceram-n’O a ficar, dizendo:«Ficai connosco, porque o dia está a terminar e vem caindo a noite». Jesus entrou e ficou com eles. E quando Se pôs à mesa, tomou o pão, recitou a bênção, partiu-o e entregou-lho. Nesse momento abriram-se-lhes os olhos e reconheceram-n’O. Mas Ele desapareceu da sua presença. Disseram então um para o outro:«Não ardia cá dentro o nosso coração,quando Ele nos falava pelo caminho e nos explicava as Escrituras?»"
Evangelho do III Dom. da Páscoa (Lc 24)


Ao ler estas passagens do Evangelho de amanhã recordei-me como toda a minha vida faz parte de um grande Mistério, pensado por Deus desde a eternidade. Cada vez que compreendo a Palavra, que se encadeia por completo na minha existência, percebo a grandeza de Deus. É este Deus, que se transmite através da Palavra e dela faz surgir a vida, que me sonhou e construiu para mim um caminho de liberdade e felicidade.

Ao pensar nos discipulos que voltavam a Emaús, recordo as inumeras vezes que regressei a casa caído na tristeza de um sonho destruído, desiludido com alguém que considerava intimo, com medo de um futuro que pensava falhado. São próprios da nossa humanidade estes momentos de solidão, de medo, de dor, de perda. Mas eis que, num momento, surge alguém no caminho, um desconhecido simultaneamente familiar, que vai dando aos discipulos o seu testemunho, que os vai introduzindo no mistério do Deus que sofre porque ama, do Deus que, porque sofreu, venceu a dor. Tão próximo se torna aquele Alguém, que os discipulos abrem as portas de sua casa à presença do desconhecido e sentam-se com Ele à mesa. E é aqui, na intimidade da mesma mesa, que Ele parte o pão e Se dá por inteiro àqueles que caminharam com Ele. É aqui que os olhos dos discipulos "se abrem" e eles O reconhecem no pão repartido por amor, Ele que desapareceu da sua vista mas permaneceu no pão partilhado.

Compreendo a surpresa dos discipulos ao reconhecerem o Mestre. Também eu já a senti, tantas vezes ao longo do caminho. Quando caminho com tantos irmãos que se vão dando e repartindo pelos outros, Ele aí está. Quando ouço a Palavra e persinto o sussurrar da Sua voz no meu interior, Ele aí está. Quando comungo do mesmo Pão que naquela tarde os discipulos receberam, Ele aí está. Quando deixo o meu egoísmo e estou disponível para o outro, Ele aí está. Quando contemplo a beleza do mar, do pôr do sol, da face daqueles que amo, a simplicidade da paisagem que avisto da minha janela, Ele aí está!

E na imensidão dos sentimentos de cada dia, no renunciar a um sonho para ter o coração livre para Ele, no cansaço feliz de quem se deu a alguém, na busca dos sinais da Sua vontade, no amor daqueles que estão próximos, só posso perguntar: "Não ardia cá dentro o nosso coração,quando Ele nos falava pelo caminho?"

2 comentários:

  1. Da mesmo para sentir um calor no coração quando estamos com Ele, as vezes sem percebermos logo que Ele está presente nesse momento, mas quando os nossos olhos se abrem, o sorriso de felicidade fica impossivel de esconder! E porquê esconder não é? :P
    Abraço
    Continua com estas reflexões que fazem muito bem a quem lê:

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  2. Como diz a música "mesmo que o mundo mude os nossos sentidos" farás sempre parte da minha história, fizeste brilhar a Sua Luz em mim, ajudaste-me a compreender o que na hora era incompreensivel, choraste e riste comigo...És ideal de amigo que to a gente devia possuir...GOSTO MUITO DE TI**

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