quarta-feira, 27 de janeiro de 2010




Meu Senhor e meu Tudo,
hoje, restam-me poucas coisas
para possuir como próprias…

O mundo questiona a minha preferência pelo Reino;
a minha consagração é sinal de contradição;
a primazia do amor questiona a primazia do meu egocentrismo;
não compreendo demasiadas coisas,
diante das quais só sou capaz do silêncio;
a fidelidade que me pedes é posta à prova,
a cada momento.

Hoje, Jesus, resta-me uma única certeza:
Sou Teu,
agora e nos dias que hão-de vir,
nas palavras pronunciadas e nas palavras caladas,
nos gestos de amor recebidos e doados,
nos momentos em que hei-de de sentir-me cheio de Ti
e naqueles em que apenas reste o vazio e a ausência,
nas lágrimas alegres da gratidão
e nas lágrimas amargas da dor e da solidão,
no olhar, no sorriso, no jeito
com que Te aproximas, de mansinho,
por meio daqueles que me deste
como irmãos e companheiros,
nesta peregrinação de regresso a Casa.

No desafio da existência,
bastas-me Tu e o teu amor.
Leva-me aonde for da tua vontade
e, como neste dia fui dado à luz do mundo,
seja gerado, no teu Coração
para a vida de Deus…

Sou Teu, inteiramente Teu, Deus fiel e transbordante em misericórdia.

domingo, 17 de janeiro de 2010

"Tu serás a alegria do teu Deus"...




«Seria necessário também um paciente esforço de educação para aprender ou então reaprender a saborear simplesmente as múltiplas alegrias humanas que o Criador coloca, já agora, ao longo dos nossos caminhos:

...alegria exaltante da existência e da vida;
...alegria do amor honesto e santificado;
...alegria pacificadora da natureza e do silêncio;
...alegria, por vezes austera, do trabalho feito com diligência;
...alegria e satisfação do dever cumprido;
...alegria transparente da pureza, do serviço e da partilha;
...alegria exigente do sacrifício, etc.

O cristão poderá purificá-las, completá-las e sublimá-las: mas ele nunca as deverá desdenhar. A alegria cristã supõe uma pessoa capaz de experimentar alegrias naturais. Foi a partir destas, de facto, que muitas vezes Cristo anunciou o Reino de Deus»...

(...)
«Esta alegria de permanecer no amor de Deus, começa já aqui, a partir deste mundo. É a alegria do Reino de Deus. No entanto, ela é concedida enquanto se percorre ainda um caminho íngreme, caminhada que requer uma confiança total no Pai e no Filho e, ao mesmo tempo, uma preferência dada ao Reino

Papa Paulo VI, Exortação Apostólica "Gaudete in Domino", 9 de Maio de 1975

sábado, 16 de janeiro de 2010

Entrar na Festa da Aliança...




Ainda não chegou a minha hora” (Jo 2,4) … Ao dizer isto à sua Mãe, Jesus tinha consciência que a sua hora não era aquela, que o momento de cumprir totalmente a vontade do Pai chegaria mais tarde, mas ainda assim realiza o sinal de Caná.

Por vezes, sou tentado a deturpar esta frase do Senhor para usá-la segundo as minhas conveniências: «Ainda não chegou a minha hora, quando for assim, quando tiver aquilo, quando me sentir daquela maneira, aí serei feliz, aí agirei em favor dos outros, aí entrarei numa relação de fidelidade com Deus»... Contudo, sou chamado a seguir Jesus e, como Ele, devo estar, desde já, disponível para dar-me, para servir, para aprofundar a minha intimidade com Deus e as relações humanas. Não devo esperar que estejam reunidas quaisquer condições, não devo esperar ser perfeito para me fazer ao caminho. Hoje, devo compreender que estou a crescer na experiência da comunhão com Deus e com os que recebi como irmãos, em Cristo. É agora que devo procurar a santidade, é desde o espaço e o tempo em que vivo, com as pessoas que partilham o meu caminho, que tenho de atrever-me a ser santo…

O Evangelho do próximo Domingo (Jo 2,1-11), ao apresentar a imagem das bodas de Caná, interpela-me a entrar na Aliança com o Senhor:

…assumindo com confiança o desafio da fidelidade.

…sabendo que o Senhor utiliza aquilo que aparentemente não tem utilidade, para dar vida e alegria (como fez com as vasilhas de pedra…).

…esperando que seja Deus a dar-me o vinho melhor, não indo eu procurá-lo em qualquer lugar.

…procurando os sinais da sua glória no mundo e nos outros, tentando tornar-me também eu num sinal da novidade do Evangelho, para que muitos acreditem.

…aprofundando a minha fé n’Aquele que pode dar-me a verdadeira alegria, se me deixar cativar por Ele.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010



«Ó meu Cristo amado, crucificado por amor,
eu quisera ser uma esposa para o Vosso Coração,
quisera cobrir-Vos de glória,
quisera amar-Vos... até morrer de amor!

Mas sinto a minha impotência
e peço-Vos para me «revestirdes de Vós mesmo»,
identificardes a minha alma com todos os movimentos da Vossa,
me submergirdes, me invadirdes, Vos substituirdes a mim
para que a minha vida não seja senão uma irra­diação da Vossa.

Vinde a mim como Adorador, como Reparador e como Salvador!

Ó Verbo Eterno, Palavra do meu Deus,
eu quero passar a minha vida a escutar-Vos,
quero ser intei­ramente dócil para aprender tudo de Vós.

E depois, através de todas as noites,
de todos os vazios,
de todas as impotências,
eu quero fixar-Vos sempre
e permanecer sob o esplendor da Vossa luz.

Ó meu Astro adorado, fascinai-me
para que eu não possa mais sair da Vossa irradiação.
Ó Fogo devorador, Espírito de Amor, «descei sobre mim»,
para que se faça na minha alma,
como que uma incarnação do Verbo.»
Beata Isabel da Trindade, ocd
 
Meu Deus, meu Senhor e meu Dono, Irmão Amado... FASCINA-ME...

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010



"Levantas os olhos para me olhar assim,
procuras cá dentro onde me escondi
e eu tenho medo, confesso, de dar
o mundo onde guardo tudo o que mais quis salvar.

Tu dizes que não há outra forma de ficarmos perto,
não há como saber se o caminho é o certo,
só pode voar quem arriscar cair,
só se pode dar quem arriscar sentir.

Abraça-me bem..."

Mafalda Veiga, Abraça-me bem

«Tende confiança. Sou Eu, não temais.» (Mc 6,50)

O Senhor sabe o que faz. Experimento esta certeza, ao confrontar a minha vida com o Evangelho, que a Igreja reparte durante esta semana. Hoje, a Liturgia apresenta-nos Jesus a enviar os discípulos sozinhos para a outra margem do lago, depois do grande sinal da multiplicação dos cinco pães e dois peixes. Ele permanece mais algum tempo com a multidão e retira-se, depois, para falar a sós com o Pai. Os discípulos, ainda fascinados pelo milagre, depressa se vêm no desespero de uma tempestade ameaçadora. No entanto, Jesus sabe que eles precisam da sua presença e vem, caminhando sobre as águas, ao encontro dos seus amedontrados amigos. O medo toldou-lhes de tal modo os sentidos que julgam ver um fantasma e será necessário que ressoe a voz do Senhor para acalmar a tempestade no coração dos discípulos...

Nestes dias, sinto-me a experimentar na minha carne esta Palavra. Eu também estive lá, também vi a multiplicação, não a dos pães e dos peixes, mas a da fé e do amor. Também me deixei adormecer na doçura dos dons de Deus e quis saboreá-los de qualquer maneira, no imediato, quando sei bem que o dom só existe para ser novamente doado. Foi por isso que o Senhor me mandou que navegasse até à outra margem da fé e da esperança, num barco frágil, tolhido pelas vagas do mar e açoitado pelo forte vento. É assim que Ele me vai ensinando que não devo assumir egoisticamente os seus dons nem usá-los para sucessos fáceis ou triunfos vazios; é assim que, demoradamente, vou compreendendo que devo enfrentar a realidade com um olhar de amor e esforçar-me por humanizar este mundo, que também é dom... Então, o Senhor vem. Na escuridão da tempestade os meus fantasmas tomam conta do meu entendimento, da minha memória, da minha vontade e sinto-me abandonado aos seus caprichos; julgo até ver no Senhor, que vem, os fantasmas que me atormentam e, por vezes, vou vivendo assim, como se Ele não passasse de um fantasma. Mas a Palavra é viva e eficaz. A voz do Mestre comunica a paz, reunifica as partes dispersas do meu coração e envia-me de novo a repartir a minha vida e a minha alegria pelo irmão... É o desafio da confiança, para o qual é necessária a coragem de agarrar com força a sua mão, mesmo quando não vemos para além da confusão. Hoje, o chamamento que o Senhor me dirige pede somente que eu me disponha a escutá-l'O e que acolha na minha dispersão a sua Presença viva.

Quando decidir dar espaço ao silêncio, eis que virá o Senhor e à sua voz terei vida, para repartir por todos...

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010




Eu queria ter amarra nesse cais
para quando o mar ameaça a minha proa,
E queria vencer todos os vendavais,
que se erguem quando o diabo se assoa.

Tu querias perceber os pássaros,
Voar como o jardel sobre os centrais,
Saber por que dão seda os casulos,
Mas isso já eram sonhos a mais.

Conta-me os teus truques e fintas:
Será que os "Nikes" fazem voar?
Diz-me o que sabes e não me mintas,
ao menos em ti posso confiar.

Agora diz-me agora o que aprendeste
De tanto saltar muros e fronteiras.
Olha para mim e vê como cresceste
Com a força bruta das trepadeiras.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

«Quem ama faz-se próximo e cresce numa relação livre e libertadora, e vive de verdade! A aventura de uma vida verdadeira leva-nos a dar a vida pelos nossos, uma dádiva que – mais do que um momento quase mágico da nossa história – se concretiza no quotidiano suceder de ventos das estações
Gonçalo Castro Fonseca, http://www.essejota.net/

Surpreende-me sempre o teu jeito de amar, que me ultrapassa e me deixa de novo totalmente seduzido. Não precisas de palavras. Basta que me olhes profundamente, com aquele olhar que sonda o coração e me deixa desarmado, que me faz sentir livre para me dar todo, até ao fim. Não esperava que viesses assim e me deixasses de coração dilatado e transbordante. Esperava dar e, afinal, só recebi...

Ali estavas Tu, no sorriso confiante de quem descobriu o rumo da felicidade, no olhar deslumbrado de quem teve a coragem de entrar na relação contigo, nas lágrimas de quem se sentiu perdoado e recriado, no entusiasmo de quem compreendeu que a vida se ganha quando é doada e entregue para que outros tenham vida. Já tinha esquecido a ternura do primeiro olhar com que me cativaste e a alegria do encontro em que pediste a minha vida pela Igreja e pelo mundo. Foram eles, repletos de vida e sedentos de sentido, com as suas histórias e a sua busca interminável por uma vida que valha a pena viver, que renovaram em mim a alegria da primeira hora. Há muito que não me sentia tão cheio de vida e, ao mesmo tempo, tão indigno dos dons que recebo do teu Coração.

Aqui estou. Pequenino, como a criança que dança de alegria no colo do Pai, sabendo-se amada e querida, desde sempre e para sempre. Faça-se em mim, segundo a tua Palavra. O meu coração em festa só deseja entregar-se mais e mais nas tuas mãos e perder-se na experiência transfigurante do teu Evangelho. Porque «ao estar ante Ti, escutando a tua voz, todo o meu ser vibra de amor». Hoje, sei que «não posso nem quero viver sem o teu amor». Desde agora, tenho uma só certeza: «sem estar junto a Ti, não posso nem quero viver»...

Tu sabes tudo. Meu Jesus, Tu sabes bem que eu Te amo...

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Ao CF 1122. A todos vocês que dilataram o meu coração e fizeram jorrar para mim as fontes que correm do Coração do Deus que é Amor... Em comunhão...