sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

«De variados modos e repetidamente, Deus tem de nos impelir e dar uma mão para podermos sair da enrodilhada dos nossos pensamentos e ocupações e encontrar o caminho para Ele. Mas há um caminho para todos. Para todos, o Senhor estabelece sinais adequados a cada um. Chama-nos a todos, para que nos seja possível também dizer: Levantemo-nos, «atravessemos», vamos a Belém, até junto d’Aquele Deus que veio ao nosso encontro. Sim, Deus encaminhou-Se para nós. Sozinhos, não poderíamos chegar até Ele. O caminho supera as nossas forças. Mas Deus desceu. Vem ao nosso encontro. Percorreu a parte mais longa do caminho. Agora pede-nos: Vinde e vede quanto vos amo. Vinde e vede que Eu estou aqui. (...) Atravessemos para o outro lado! Ultrapassemo-nos a nós mesmos! Façamo-nos viandantes rumo a Deus dos mais variados modos: sentindo-nos interiormente a caminho para Ele; mas também em caminhos muito concretos, como na Liturgia da Igreja, no serviço do próximo onde Cristo me espera.»
Bento XVI, Homilia da Missa da Meia Noite, 24/12/2009



Meu Jesus menino, tardo em aprender a olhar-te na pobreza de Belém... Aí, onde se revela a beleza de um Deus entregue e repartido por aqueles a quem ama como filhos, onde permaneces como sinal da loucura do Deus apaixonado pelos homens e mulheres de todos os tempos. Não é fácil levantar-me e pôr-me a caminho para Te encontrar: o teu amor humilde confunde o meu egoísmo e a tua presença próxima interpela insistentemente a minha dispersão. Fujo constatemente de Ti. Icomodas o meu confortável e inconsciente jeito de sentir, pensar e viver; interrogas a superficialidade e o interesse com que me aproximo daqueles que em Ti são irmãos meus. Hoje, chega até ao meu coração a tua voz terna que repete suavemente o que outrora gritaste ao entregar-nos o Espírito: «tenho sede!»... Em Ti, Deus Menino, descubro já uma sede de amor, de dom e acolhimento, de verdade, uma sede presente no pobre, no faminto, no injustiçado, nos corações humildes e puros. De Ti escuto um apelo urgente a levar-lhes a Boa Notícia do Reino, a anunciar-lhes o Deus da vida e da compaixão, a edificar uma Igreja mais próxima, mais terna, mais acolhedora.

É Natal... Tu, meu Deus, agora tens um Corpo! Agora faz sentido... "Isto é o Meu Corpo", pronunciado sobre nós, sobre a nossa carne, sobre a nossa humanidade. Não posso não escutar, não deixar-me tornar Teu Corpo, para ser entregue, repartido para alimentar muitos. Sobre o altar do mundo deixo a fragilidade do meu egoísmo e a pequenez dos meus projectos efémeros: são estes os dons que ofereço com a tua Humanidade. Derrama o teu Espírito e que estes dons se convertam para todos teu Corpo e Sangue, a tua Vida plena e transfigurante. Vem e que, em mim, a tua Palavra se torne presença, encontro e vida, em tua memória, em memória do teu amor levado até ao fim...

____________________________________________
A todos os que aqui rezam e acolhem a presença do Deus feito Homem, desejo um Santo Natal...

terça-feira, 8 de dezembro de 2009



Maria...
«Torna-nos semelhantes a Ti
e ensina-nos a caminhar na vida como Tu:
forte e digna,
simples e bondosa,
irradiando amor, paz e alegria.
Em nós percorre o nosso tempo,
prepara-o para Cristo...»
Pe. Kentnich

sábado, 5 de dezembro de 2009

Agora, Ele vem...



Pai Santo, Deus fiel e misericordioso,
princípio e fim de todas as coisas,
é verdadeiramente nosso dever dar-Te graças
e cantar-Te um hino de bênção e de louvor.
Tu nos escondeste o dia e a hora,
em que Jesus Cristo, Teu Filho,
Senhor e juiz da história,
aparecerá sobre as nuvens do céu,
revestido de esplendor e majestade.
Nesse dia tremendo e glorioso,
passará o mundo presente
e aparecerão os novos céus e a nova terra.

Agora Ele vem ao nosso encontro,
em cada homem e em cada tempo,
para que O recebamos na fé e na caridade
e dêmos testemunho da gloriosa esperança do seu Reino...


Prefácio do Advento I/A

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009



«Muitos deixam de se fazer cristãos nestas terras, por não haver quem se ocupe de tão santas obras. Muitas vezes me vem ao pensamento ir aos colégios da Europa, levantando a voz como homem que perdeu o juízo e, principalmente, à Universidade de Paris, falando na Sorbona aos que têm mais letras que vontade para se disporem a frutificar com elas. Quantas almas deixam de ir à glória e vão ao inferno por negligência deles! E, se assim como vão estudando as letras, estudassem a conta que Deus Nosso Senhor lhes pedirá delas e do talento que lhes deu, muitos se moveriam a procurar, por meio dos Exercícios Espirituais, conhecer e sentir dentro de suas almas a vontade divina, conformando-se mais com ela do que com suas próprias afeições, dizendo: «Senhor, eis-me aqui; que quereis que eu faça? Mandai-me para onde quiserdes; e se for preciso, até mesmo para a Índia».

Das cartas de Francisco Xavier a Inácio de Loiola

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Espero-Te...

«Deixa um momento as tuas ocupações habituais, ó homem, entra um instante em ti mesmo, longe do tumulto dos teus pensamentos. Põe de parte os cuidados que te apoquentam e liberta-te agora das inquietações que te absorvem. Entrega-te uns momentos a Deus; descansa por algum tempo em sua presença.

Entra no íntimo da tua alma; remove tudo, excepto Deus e o que possa ajudar-te a procurá-l'O. Encerra as portas da tua habitação e procura-O no silêncio. Diz a Deus, de todo o coração: "Procuro o vosso rosto; o vosso rosto, Senhor, eu procuro".

E agora, Senhor meu Deus, ensinai ao meu coração aonde e como hei-de buscar-Vos, aonde e como poderei encontrar-Vos.
(...)

Olhai, Senhor, para nós; ouvi-nos, iluminai-nos, manifestai-Vos a nós. Vinde morar connosco e seremos felizes; sem isso passaremos muito mal. Tende compaixão dos nossos trabalhos e esforços para Vos alcançar, porque sem Vós nada podemos.

Ensinai-me a procurar-Vos e mostrai-me o vosso rosto; porque não posso procurar-Vos se não mo ensinais. Não posso encontrar-Vos, se não Vos mostrais. Desejando Vos procurarei, e procurando Vos desejarei; amando Vos encontrarei e encontrando Vos amarei.»

Sto. Anselmo, «Proslógion»



Vieste. Vens. Virás. Ontem, hoje, amanhã e sempre... Chegas sempre com a novidade radical e a alegria transbordante da Boa Notícia do Reino. Apesar das ruinas que vou amontoando aqui dentro, dos sinais de destruição que me toldam o olhar, fazes-me acreditar que a tua esperança coloca já o meu coração em festa. Não devo senão deixar-me alcançar por ti e enamorar-me de novo. Espero o dom de um coração mais humilde e fiel. Espero-te...

terça-feira, 17 de novembro de 2009

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Nas Tuas mãos...


«In manus tuas commendo spiritum meum... Nas mãos que partiram e vivficaram o pão, que abençoaram e acariciaram as crianças, que foram trespassadas, nessas mãos que são como as nossas, das quais nunca conseguimos saber o que farão do objecto que seguram, se o vão quebrar se vão dele cuidar - mas cujos caprichos, disso estamos certos, são cheios de bondade, e nunca visam senão abraçar-nos mais ciosamente, nas mãos doces e poderosas que chegam à medula da alma, que formam e que criam, nessas mãos por onde corre um amor tão grande, é bom entregarmos a nossa alma, sobretudo quando sofremos ou quando temos medo. E há uma grande felicidade e um grande mérito em fazê-lo.»

Pierre Teilhard de Chardin

domingo, 1 de novembro de 2009



No claustro há sempre luz e sombras. Há pedras gastas pelos passos dos séculos e memórias que vagueiam sem destino nem sentido. No claustro há vivos-mortos e mortos que reviveram, há vidas esquecidas, resignadas, mas há as que foram entregues, doadas. No claustro há silêncio ou murmúrios ou vozes alegres que cantam a vida. Há máscaras que teimam em não cair, há caídos que só desejam poder mascarar-se, há vidas nuas, transparentes, por vezes feridas pelo tempo e pela história. No claustro há duas portas: uma para o mundo, onde se descobre Deus nos dias e nas horas de encontro ou desencontro, nas ruas e nas casas trespassadas de egoísmo ou comunhão, no sacramento do outro, na «epifania do rosto»; a outra para Deus, onde se revela a beleza do mundo e da vida, o sentido da história de um lento e tímido peregrinar, onde se escuta o grito dos abandonados e a melodia apaixonada de uma canção de amor.
Em mim há um claustro, igual a este outro, feito de sonho e fogo e barro, construído por mãos sem número, pela força de uma verdade constantemente procurada e acolhida. Caminho agora, sereno, sob as abóbadas do claustro. Na quietude do entardecer, vejo-O e sorrio: é «Deus que percorre o jardim pela brisa da tarde».

24 de Outubro de 2009, ao entardecer...

domingo, 18 de outubro de 2009

«Desafias-me. Lutas comigo. Vens e desinstalas-me, rompendo as amarras que ainda não me deixam ser fecundo, quebrando o orgulho que não me deixa viver na verdade, destruindo os muros protectores que ergui contra Ti, desmascarando-me das personagens que assumo, no desejo profundo de ser aceite, reconhecido e amado. Mas és Tu, meu Jesus Crucificado e Ressuscitado, Deus de vida e compaixão, o único capaz de saciar-me, o único de quem posso beber eternamente o amor, num desejo que nunca se extingue, mas que conduz à verdadeira alegria... A alegria da festa das Tuas bodas com a Humanidade, da Tua ceia nupcial comigo, quando formos Um só, no amor...
Faz-me compreender isto, meu Irmão Amado, e abre o meu entendimento, a minha memória e a minha vontade à certeza de que chegarei a ser Um conTigo se colocar a minha inteira liberdade na resposta ao Teu apelo: "Não tenhas medo; de futuro, serás pescador de homens." (Lc 5, 10)»

Vila Viçosa, 17 de Outubro de 2009

domingo, 4 de outubro de 2009

"Seguir-Te-ei para onde quer que fores"...

Senhor Jesus, Tu me envias, de aldeia em aldeia, a anunciar o Evangelho do Reino, a acolher e a curar as feridas daqueles que pões no meu caminho e revelas-me como esse caminho, nunca isento de perigos e dificuldades, conduz à vida plena, pois realiza-se no seguimento comprometido dos teus passos.

... Convidas-me a não levar nada para o caminho, sabendo que tantas vezes não sei confiar em Ti o suficiente para deixar as minhas seguranças de lado.
... Envias-me a anunciar o Evangelho, a curar e reconciliar os homens e mulheres do meu tempo, conhecendo a minha fragilidade na vivência da tua Boa Nova e as feridas que, em mim, ainda não deixei que curasses.
... Pedes-me que eu mesmo dê de comer àqueles que, à minha voltam, andam famintos de amor e de vida e sedentos de Ti, sendo eu um mendigo da tua misericória, que não possuo senão os dons que de Ti recebi.
... Bates à minha porta e perguntas-me quem digo eu que Tu és, embora eu não saiba abrir-te o meu coração e acolher a tua presença, aquilo que és, o meu Salvador e o meu Deus.
... Apelas a que eu seja o mais pequeno entre os irmãos, quando o espaço que dou ao meu egoísmo é tão grande, que, por vezes, não tens lugar onde habitar em mim.
... Deixas como meta da opção por Ti o caminho da cruz, e, tantas vezes, vês como me escondo nas minhas inseguranças e no mundo construído à minha imagem, com medo do sofrimento e das tribulações, que o permanecer no amor pode trazer-me.
... Dizes-me que "quem olha para trás, depois de deitar a mão ao arado, não está apto para o Reino de Deus", Tu que sabes bem como me deixo prender pela nostalgia, pela tristeza, pela satisfação imediata, pelo que tenho e fico paralisado no caminho, sem deixar que me leves para onde queres.

Nada mais posso fazer, meu Jesus, senão entregar-me com confiança nas tuas mãos, sabendo que, se me escolheste para Ti, me darás a graça para corresponder ao teu dom. No teu Espírito, ensina-me a confiar no teu amor, a acolher com alegria os dons que colocas nas minhas mãos, a deixar-Te curar as feridas do meu coração, a procurar conhecer-te na Verdade, a ser humilde servo dos irmãos e do Reino, a abraçar a cruz com que alcançarei a Ressurreição, a viver na liberdade e no desprendimento, fazendo de Ti o centro da minha vida.

Só quero que vivas em mim e derrames, com abundância, no meu coração o Espírito que dá a vida e realiza a vontade do Pai, para me tornar servo pobre, casto e obdiente do Evangelho e lugar de encontro entre Ti e os homens e mulheres, meus irmãos...

Leiria, 10 de Dezembro de 2008

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Viver de Amor!



"Viver de amor, não é, cá nesta terra,
fixar morada no cimo do Tabor;
é, com Jesus, subir ao Calvário,
é amar a Cruz com todo o ardor.
No Céu, então, viverei só de gozo,
já não terei angústias nem dor:
Agora quero, num sofrer doloroso:
Viver de amor! Viver de amor!

Viver de amor é dar sem medida,
sem o salário querer reclamar;
dou sem contar, e bem convencida,
nada recusa quem sabe amar.
Amor Divino! Ó Fornalha acesa,
tudo Te dei! Corro com ardor...
Eu já não tenho mais que esta riqueza:
Viver de amor! Viver de amor!

Viver de amor, que estranha loucura!
Diz-me o mundo: cessa de cantar;
inutilmente, não percas a vida,
os teu perfumes sem deles gozar!
Amar Jesus, que perda fecunda!
Os meus perfumes são p'ra Ti, Senhor.
Quero cantar ao sair deste mundo:
Morro de amor! Morro de amor!..."

S. Teresa do Menino Jesus

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

"O meu Deus tornou-se a minha força"...

"Fez da minha palavra uma espada afiada,
escondeu-me na concha da sua mão. (...)

Disse-me: «Israel, tu és o meu servo,
em ti serei glorificado.»
Eu dizia a mim mesmo: «Em vão me cansei,
em vento e em nada gastei as minhas forças.»
Porém, o meu direito está nas mãos do SENHOR,
e no meu Deus a minha recompensa.
E agora o SENHOR declara-me
que me formou desde o ventre materno,
para ser o seu servo,
para lhe reconduzir Jacob,
e para lhe congregar Israel.
Assim me honrou o SENHOR.
O meu Deus tornou-se a minha força."
Is 49, 2-5

Deus, meu Pai e meu refúgio, mais um dia chega ao fim... És Tu quem me conduz na descoberta de novos caminhos, és Tu o protagonista de tantos encontros e diálogos, és Tu a "sarça" que em mim arde sem se consumir e o silêncio que pacifica. Tento perceber a minha história como "história de salvação" e dar um sentido "Teu" a tudo aquilo que experimentei e vivi.
Porque me escondes na concha da Tua mão, sei que a cruz é fecunda e que aí se manifesta toda a Tua força, o amor doado e gratuíto. E este amor, puro dom de Ti mesmo, faz-me compreender que depositas nas minhas mãos uma tarefa preciosa e exigente. Dando-Te a mim e acolhendo-me em Ti, pedes-me a disponibilidade necessária para, através de mim, Te dares a todos os homens e mulheres que cruzem o meu caminho.
Quero, hoje, ser pequenino... Quero confiar-me inteiramente a Ti, colocar nas Tuas mãos a minha história e o ministério que me convidas a encarnar, quero adentrar o Teu Coração para aí fazer morada.
Faz-me capaz da Tua humildade que dá espaço à liberdade e ao ser do outro, torna-me capaz do Teu silêncio responsabilizante e transformador, faz-me capaz da Tua misericórdia que perdoa, acolhe e recria até às raizes do próprio ser. Sê, hoje e para sempre, a minha força, a força do meu amor até à dádiva total.
Amen.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

"Reaviva o dom de Deus que há em ti"...

"É o sinal da cruz, como um chamamento ou um incentivo contínuo, que cada dia abre de par em par diante da vida humana horizontes insuspeitos e pede a renúncia a projectos mesquinhos; a cruz, portanto, como companheira habitual, inclusive quotidiana, não como desagradável sucesso eventual que terá que exorcizar e excluir o mais possível os projectos pessoais, mas como distintivo inequívoco da presença e do projecto daquele Deus que quando ama chama, e precisamente porque ama, chama a amar à sua maneira, assim como um dia chamou o Filho à kénosis, ao esvaziamento voluntário, a fim de dar ao homem espaço para ser libertado. E o jovem sente-se chamado a amar e a gastar a sua vida, já não de maneira humana e instintiva, mas passando através de um processo de conversão dura e progressiva!"
Amadeo Cencini

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Perante o silêncio que brota do fundo do ser, tomo para mim estas palavras, fazendo delas a expressão da alma e o murmúrio que, hoje, elevo para Deus...

"Existe um só Caminho.
Aparentemente ele é desconcertante,
mas conduz à meta, e só ele é a verdade.
Todos os dias e toda a história humana
o constatam com uma evidência real
para os olhares francos.

É o Caminho
da Agonia de Amar
para a Ressurreição,

Caminho de Des-ilusão
que rasga e despe, e deixa mais livre
face ao Real Absoluto...
para o Entusiasmo
do face a face
com o Amor Real, Absoluto, Único, Universal.

Não há outro Caminho seguro
senão o desta contradição,
deste confronto,
que é preciso aceitar,
que é preciso querer,
ao qual é preciso recusar esquivar-se
custe o que custar.
Só ele é fecundo, quer isto se veja quer passe despercebido."

Abbé Pierre (1957)

domingo, 13 de setembro de 2009


"Não sentis a Senhora de Fátima a dizer-vos ao ouvido:

...escuta o meu Jesus e segue os interesses de Deus Pai,

...acolhe a tua cruz, alivia a cruz de quem vive contigo,

...oferece-te para renovar a Igreja,

...entrega-te por um Portugal mais livre e justo,

...colabora na construção de um mundo novo?"

D. Carlos Azevedo, Fátima, 12/09/2009

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

"Cantarás naquele dia: «Dou-te graças, Senhor, porque estando irritado contra mim, a tua ira se aplacou e me consolaste. Este é o Deus da minha salvação; estou confiante e nada temo, porque a minha força e o meu canto de vitória é o Senhor; Ele foi a minha salvação.» Tirareis água com alegria das fontes da salvação."
Is 12, 1-3

Estas são palavras de esperança... Queria que, hoje, as escutasses e guardasses em ti; acima de tudo, que abrisses o teu coração à presença d'Aquele que te consola no desânimo e é, em ti, a fonte borbulhante da esperança. Afasta o medo, a dúvida, a insegurança. Espera. Confia. Ama...

Rezo contigo usando as palavras que tantas vezes partilhámos:

Senhor Jesus, ensinai-me a ser generoso;
a servir-Vos como Vós o mereceis;
a dar-me sem medida,
e a combater sem cuidar das feridas;
a trabalhar sem procurar descanso
e a gastar-me sem esperar outra recompensa
senão saber que faço a Vossa vontade santa.
Amen.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009


"O Senhor disse a Abrão:
«Deixa a tua terra, a tua família e a casa do teu pai, e vai para a terra que Eu te indicar. Farei de ti um grande povo, abençoar-te-ei, engrandecerei o teu nome e serás uma fonte de bênçãos.(...)»
Abrão partiu, como o Senhor lhe dissera..."
Gn 12, 1-2.4a

No silêncio, tento perceber-Te, esforço-me por compreender, na medida que me é possível, este Teu convite, sussurrado ao meu ouvido de tantos modos, nestes tempos.
Pedes-me, com doçura, que deixe o que é meu, que me exproprie de tudo o que não é verdadeiro e essencial, das coisas, das relações, dos desejos e projectos que não são puros, gratuítos e fecundos. No fundo, desejas que me exile do meu egoísmo para me encontrar em Ti, desejas que eu peregine na confiança e na esperança, como os que se sabem guiados unicamente por Ti, ainda que seja de noite, mesmo que caminhe sem ver o pedaço de chão que pisarei em seguida. Assim o quero e desejo! Não quero consolações e facilidades, sucessos ou triunfos estéreis, felicidade vazia e inerte. Quero apenas aprender a amar-Te pelo que és, de coração puro e consciência recta, experimentando a verdadeira alegria, ainda que a razão e o coração sofram...
Conheço bem a minha fragilidade que, aparentemente, não me dá razões para me fazer ao caminho, mas vou descobrindo a grandeza do Teu amor, capaz de divinizar aquilo que eu me esforçar por humanizar.
Não te peço outra graça senão aquela que desejas ardentemente conceder-me e, no silêncio, confio em Ti, Deus fiel. Na quietude do coração, não espero mais nada senão que o Teu amor me fira profundamente e eu permaneça sempre sedento, e ainda assim sempre borbulhando bênção, sentido e vida abundante. Amen.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Deixa-te amar mais que estes», é a tua vocação, e é sendo-lhe fiel que me tornarás feliz, porque engrandecerás o poder do meu amor. Amor este que será capaz de refazer o que tiveres desfeito: «Deixa-te amar mais que estes»."

"Sou «eu» que venho e te trago a alegria desconhecida... vou entrar no fundo de ti. Ó minha esposa! Eu em ti pousei e repousei; agora possui-me tu e repousa tu em mim! Ama-me! a tua vida inteira me agradará, desde que me ames! Em ti farei grandes coisas, em ti serei conhecido, glorificado, em ti serei clarificado!..."

"Deixa-te amar", Isabel da Trindade

segunda-feira, 10 de agosto de 2009


Abro os braços.
Tranquilo, espero...
Com a pureza de uma criança,
esboço um sorriso,
embora o meu olhar ainda não Te alcance...

Confio.
Sei que corres para mim.
Sei que me desejas.
Acima de tudo,
sei-me amado,
hoje e para sempre,
até ao fim e para além dele.

Chegas.
Como a onda que, ternamente,
beija a praia,
vens e, subitamente,
sei-me capaz de amar,
de uma forma que me ultrapassa,
porque o Amor és Tu...

Permaneces.
Dás-Te todo.
Acolhes-me todo.
Na liberdade das minhas decisões,
divinizas o homem que sou.
Pelas minhas mãos,
pobres e frágeis,
queres oferecer-Te,
dar, a todos, a Tua vida...

"Mais, mais, mais"...
Não posso deixar de dizê-lo,
com Francisco Xavier,
sonhando acordado,
ao desejar ser capaz de amar,
sem nunca ceder
ao cansaço e ao desânimo.
Consome o egoísmo.
Consuma o amor.
Faz-me, inteiramente,
dom e acolhimento...

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Troquemos o instante pelo eterno.
Sigamos o caminho de Jesus.
A primavera vem depois do inverno;
A alegria virá depois da Cruz.


Passa o tempo e, com ele, as nossas vidas;
Tal como passa o bem, passa a desgraça.
Passam todas as coisas conhecidas...
Só o Nome de Deus é que não passa.


Farei da fé, vivida cada dia,
A luz interior que me conduz
À luz de Deus, da paz e da alegria,
À luz da glória eterna, à Luz da Luz.

Hino da Liturgia das Horas

O tempo de férias é propício a revisitarmos o santuário interior e profundo, no qual Deus faz morada em nós... Aí, imersos na paz de quem se sabe habitado por Deus, podemos lançar um olhar renovado sobre o caminho percorrido até aqui e discernir até onde estivemos dispostos a seguir, com radicalidade, o Evangelho que o Senhor confiou à nossa fragilidade.

Aqui, junto do mar que sempre me recorda a vastidão do amor de Deus e a minha pequenez diante d'Ele, trago à memória os encontros e desencontros, os lugares e os momentos, os anseios, angústias e esperanças do último ano. Talvez venha a recordá-lo como o grande deserto, até ao qual Deus nos seduz para nos falar, no silêncio, ao coração; talvez eu não tenha sabido reconhecê-lo a tempo de escutar e aprender de Deus a ser verdadeiro e humilde, puro e corajoso; talvez tenha esquecido a força que sempre me impeliu a caminhar: a capacidade de sonhar...

Contudo, sou, na força e na dinâmica do Espírito de Cristo, um consagrado ao Senhor e, por isso mesmo, sou continuamente chamado a acolher, com disponibilidade e alegria, o dom de Deus e a procurá-l'O na Igreja, no mundo, naqueles que Deus me confiou como irmãos. Hoje, sei que, ao atravessar o deserto, o Senhor quis que eu me soubesse frágil e pobre, quis dizer-me que não sou mais que ninguém e que não devo gastar-me a tentar ser aquilo que os outros esperam de mim... Não, conhecendo o meu nada, sou convidado a confiar totalmente n'Aquele que, em mim, pode fazer muito mais do que espero ou procuro. É este Deus que me estende a mão, porque está pronto a desposar-me na fé e no amor, se me disposer a ser todo d'Ele...

Na paz que a noite traz ao meu coração, peço-Lhe que renove em mim a capacidade de sonhar, de ver o mundo e os que me rodeiam com a ternura e a misericórdia do Evangelho, dispondo-me a ser um sinal do seu amor e a caminhar como um peregrino na História, de olhar fixo na única pátria que possuo, o Coração de Deus...

quarta-feira, 15 de julho de 2009

«Desceram, então, do monte chamado das Oliveiras, situado perto de Jerusalém, à distância de uma caminhada de sábado, e foram para Jerusalém. Quando chegaram à cidade, subiram para a sala de cima, no lugar onde se encontravam habitualmente.Estavam lá: Pedro, João, Tiago, André, Filipe, Tomé, Bartolomeu, Mateus, Tiago, filho de Alfeu, Simão, o Zelota, e Judas, filho de Tiago.E todos unidos pelo mesmo sentimento, entregavam-se assiduamente à oração, com algumas mulheres, entre as quais Maria, mãe de Jesus, e com os irmãos de Jesus.»
Act 1, 12-14


Maria, Mãe de Cristo e da Igreja, Senhora e Rainha do Cenáculo, em Ti contemplo a Beleza e a Ternura de Deus, que espelhas para os homens e mulheres que peregrinam neste mundo. No Cenáculo, unida na mesma fé, esperança e caridade aos Apóstolos do teu Filho, perseveras no diálogo íntimo e amoroso com Deus, que te escolheu, enchendo-te da sua graça, e te enviou ao mundo como Arca da Nova Aliança, a primeira a experimentar os dons da Páscoa de Cristo e a primeira a oferecê-los à Igreja.
No teu Coração Imaculado, transbordante do Espírito, encontro a disponibilidade e a humildade de quem se coloca na escuta da Palavra, para a fazer vida em si; descubro a alegria e a paz de quem aceita dizer um "sim" verdadeiro e comprometido ao belo e exigente Projecto do amor de Deus; encontro o amor e a pureza de quem assume uma vida radical, enraizada no Evangelho, e se deixa consagrar pelo Espírito Santo, na totalidade do seu ser; descubro a ternura e a confiança de quem aprendeu a fazer-se servo da Humanidade e sinal da esperança, abandonando-se ao mistério da vastidão do amor de Deus. Porque em ti repousa o Espírito, acolhes maternalmente os discípulos do teu Filho e todos os que, no amor, são filhos de Deus, gerando em cada dia no seus corações o Verbo do Pai, Jesus, nosso Redentor.
Unido, no Espírito Santo, a toda a Igreja, ao Cenáculo dos discípulos do Senhor, a Casa e a Escola da fé e da comunhão, peço-te, Mãe, que me ensines a caminhar de coração pobre, humilde e puro, onde Cristo é continumente gerado pelo Espírito, Tenda de encontro entre Deus e os homens, um coração repartido para a vida dos irmãos. Consagro-me ao Pai, envolvido no amor do teu Coração Imaculado, e no teu colo recebo o dom de Deus, que me faz fecundo no amor e me impele a caminhar segundo o Espírito.
Amen.

sábado, 27 de junho de 2009

quarta-feira, 10 de junho de 2009

A cada passo... Tu

Partilho as palavras com que, hoje, agradecemos ao Senhor o dom do caminho entregue nas nossas mãos, dom que brotou das vidas daqueles que são a nossa família... Hoje, na Festa das Família aqui no Seminário, mesmo sentindo a ausência de pessoas essenciais no caminhar,fizemos memória das maravilhas que o amor de Deus fez e faz nas nossas histórias...

Obrigado, Senhor Jesus, por repartires entre nós o Teu Pão e nele Te dares todo, dissipando a escuridão dos nossos medos e curando, com amor, as feridas dos nossos corações. Contigo em nós, vemos agora com clareza o caminho que somos chamados a acolher e a percorrer, sabendo-nos pequeninos diante de Ti, mas certos da Tua presença, a cada passo que damos.

Hoje, és em nós a luz que orienta e dá sentido ao caminhar, a luz que incessantemente brilha no mais íntimo de nós, impelindo-nos a ir ao encontro dos que ainda vivem nas trevas. Hoje, reconciliados com a nossa história, construída conTigo e em Ti, agradecemos o dom das nossas famílias, a vida daqueles por quem nos sabemos amados, daqueles que nos ensinaram a procurar-Te e nos quais encontrámos a Ternura com que nos olhas.

Faz-nos compreender que a luz que agora brilha nos nossos corações, nasceu pelas mãos daqueles que são a nossa família. De olhar iluminado, faz-nos perceber que, enraizados no Teu Evangelho, devemos traçar o nosso caminho de felicidade, acolhendo a beleza do Teu Projecto de Amor. Porque amas até ao fim, Tu és o único capaz de tocar a nossa história para nela fazes maravilhas… Amen.

terça-feira, 9 de junho de 2009

Magnificat (Parte IV)



Penso em Ti e sorrio;

permeado da Tua alegria,

digo-Te o meu simples «obrigado»...

... da divisão geraste a minha paz;

... não deixaste que o medo me esmagásse;

... em mim, continuas a fazer-Te dom para todos;

... abraças-me com infinita ternura;

... repetes com o teu sorriso de vida: «Eu amo-te»...



Coloco-me todo em Ti

e adentro com passos firmes o teu Coração.

Dou-me todo à tua vontade, ao Teu Projecto de Amor.

Consagro-me à ternura do teu olhar e do teu amar

e abraço-Te com a confiança de uma criança feliz...



Amo-Te!

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Passo a passo, caminho...
Perdido numa noite cerrada,
procuro Aquele que o meu coração deseja.
Procuro e não encontro,
percorro os caminhos deste mundo
sem encontrar o lugar a que pertenço.

Hoje, sabes bem,
precisava de um silêncio onde descansar,
de um ombro onde reclinar a cabeça
e adormecer seguro...
Contudo, permaneço aqui,
mergulhado na escuridão,
sentindo o coração a transbordar
sem perceber a quê ou a quem
devo dar-me.
Hoje, não queria ser eu,
não queria olhar o espelho
e encontrar a criança frágil,
o pequeno amedrontado
que fixa os meus olhos.

Ainda assim, sinto-Te presente
na noite densa.
Consigo tocar a Tua intensidade
e até percrutar o Teu olhar,
mas o caminho produz em mim
um cansaço mortal.
Não fiques escondido, Amado,
enquanto me perco na noite;
não ocultes a fonte,
enquanto morro de sede...

É Tua a promessa de seres refúgio,
é Tua a Palavra que contém Vida.
Mostra-me o Teu rosto
e encontrarei o sentido;
revela-me o caminho escondido
que conduz à ferida de Amor rasgada em Ti,
para por ela entrar.
Aí, no mais íntimo de Ti,
espelhado na luz puríssima da Trindade,
cumprirei todo o meu ser,
porque Tu serás a vida em mim...

sábado, 23 de maio de 2009

5.30h. Olho as estrelas de um céu que já anuncia a manhã, no silêncio do santuário, e sinto

domingo, 10 de maio de 2009

Escrito a 01/02/2007... a Maria


Maria, doce Mãe,
Tu que habitas na pureza da luz de Cristo,
ouve a oração que, na humildade de homem, te dirijo;
abre as tuas mãos
para que também essa luz da Presença divina
me envolva.

No teu olhar vejo a pureza de quem vê mais além...
Ajuda-me a compreender que "o essencial é invisível aos olhos".
No teu sorriso contemplo a esperança
de que o amor brotará do coração de cada um dos teus filhos...
Dá-me a alegria de anunciar a vida verdadeira a todos.
No teu silêncio encontro a paz e a humildade
que te apoiaram no caminho e deram o sentido de Deus à tua vida...
Orienta o meu caminho para o ideal do Homem-Novo,
renascido em Cristo.
Nos teus gestos vejo a misericórdia,
sinal da presença de Deus dentro de ti...
Ajuda-me a abrir os meus braços e a estender as minhas mãos
àqueles que anseiam por erguer-se.
No teu coração vejo, sinto a chama do Espírito de Deus,
que te preenche de amor e vida...
Acende em mim este fogo,
que jamais as torrentes poderão apagar,
que me levará a dar a vida
por Deus e pelos homens, meus irmãos.
Na tua palavra descubro o compromisso e a vocação
que te consagra a realizar na vida a Palavra de Deus...
Consagra-me ao Pai, em espírito e verdade,
para que em mim se cumpra a sua vontade.

A tua opção foi o caminho da entrega total,
da dádiva completa ao amor de Deus.
Confio-te a minha vocação,
para que a pureza da tua luz ilumine a minha vida
e eu compreenda a vontade do Pai a meu respeito.
Consagro-me a ti,
em ti entrego-me ao Pai, como dádiva de amor,
para poder habitar nessa luz, plenitude de vida.
Abre as tuas mãos e derrama sobre mim a graça
que me torna semelhante ao teu filho, Jesus...
Abre o meu coração, preenche-o d'Ele
para aceitar a vontade do Pai e entregar-me ao seu Projecto,
semeando o amor que Ele me consagrou
em poder também chamar-me teu filho.
Amen.
Totus Tuus, Maria.
Inteiramente teu, Maria... e teu, de Cristo.

sexta-feira, 8 de maio de 2009

"Eu gravei a tua imagem na palma das Minhas mãos"...

"Acaso pode uma mulher esquecer-se do seu bebé, não ter carinho pelo fruto das suas entranhas? Ainda que ela se esquecesse dele, Eu nunca te esqueceria. Eis que Eu gravei a tua ima­gem na palma das minhas mãos."
Is 49, 15-16

Algumas vezes, meu Pai, foi esta percepção clara de ter sido sonhado, criado e escolhido por Ti, de permanecer "escondido na palma da Tua mão", que permitiu que caminhasse conTigo e para Ti. Nos momentos em que me senti naufragar nas águas inquietas e traiçoeiras dos meus sonhos e ilusões, pude experimentar como Te fazes a força daqueles que em Ti confiam.
Compreendo, hoje mais que nunca, que caminho no meio de um Povo de coração ferido, de homens e mulheres que se esqueceram de esperar, confiar, acreditar em si mesmos, nos outros e, principalmente, em Ti. Na minha fragilidade, percorro com eles os caminhos do nosso mundo, inúmeras vezes destroçado por dentro, procurando como todos um salvador e um libertador à minha medida.
Contudo, Tu, Abbá, ages de forma substancialmente diferente, com a Tua novidade permanente e a força do Teu amor. Não Te limitas a olhar-nos, a cuidar de nós, a caminhar connosco. Não, Tu tornas-Te um de nós, tomas para Ti o que somos, os nossos jeitos de sonhar, de sentir, de amar, de sofrer... É connosco e partindo de nós mesmos que vens libertar-nos, fazendo-Te dom no amor, em Jesus, o Teu Ungido. Em mim, "despertas cada manhã os meus ouvidos" e fazes-me compreender que devo ser, no meio dos corações feridos, a tenda de encontro entre Ti e os homens e mulheres, o lugar da cura e da reconciliação...
Tu que és meu Pai, que me sonhas e crias para Ti, preenche-me do Teu Espírito, da dinâmica de amor que és. Sê a minha força, guardando-me com ternura na palma da Tua mão, e faz de mim o óleo derramado nos corações feridos dos sem-esperança, o óleo da consolação e da alegria, o óleo de agradável perfume na Tua presença. Amen.

"Mandai-nos apóstolos de coração puro, testemunhos santos.
Rostos claros de pessoas felizes porque escolhem o máximo,
arriscam tudo e recebem cem vezes mais."

Oração da Semana das Vocações

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Saboreei e vi...


"Saboreei e vi com a luz da inteligência, ilustrada na vossa luz, o vosso abismo insondável, ó Trindade eterna, e a beleza da vossa criatura. Por isso, vendo-me em Vós, vi que sou imagem vossa por aquela inteligência que me é dada como participação do vosso poder, ó Pai eterno, e também da vossa sabedoria, que é apropriada ao vosso Filho Unigénito. E o Espírito Santo, que procede de Vós e do vosso Filho, me deu a vontade com que posso amar-Vos.
Porque Vós, Trindade eterna, sois criador e eu criatura; e conheci – porque Vós mo fizestes compreender quando me criastes de novo no Sangue do vosso Filho – conheci que estais enamorado da beleza da vossa criatura.
Oh abismo, oh Trindade eterna, oh Divindade, oh mar profundo! Que mais me podíeis dar do que dar-Vos a Vós mesmo? Sois um fogo que arde sempre e não se consome. Sois Vós que consumis com o vosso calor todo o amor profundo da alma. Sois um fogo que dissipa toda a frialdade e iluminais as mentes com a vossa luz, aquela luz com que me fizestes conhecer a vossa verdade.
Espelhando-me nesta luz, conheço-Vos como sumo bem, o bem que está acima de todo o bem, o bem feliz, o bem incompreensível, o bem inestimável, a beleza sobre toda a beleza, a sabedoria sobre toda a sabedoria: porque Vós sois a própria sabedoria, o alimento dos Anjos, que com o fogo da caridade Vos destes aos homens.
Sois a veste que cobre toda a minha nudez; e alimentais a nossa fome com a vossa doçura, porque sois doce sem qualquer amargor. Oh Trindade eterna!"

Sta. Catarina de Sena

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Mistério Pascal, mistério de Esperança...

"Desde a alvorada de Páscoa, uma nova primavera de esperança invade o mundo; desde aquele dia, a nossa ressurreição já começou, porque a Páscoa não indica simplesmente um momento da história, mas o início duma nova condição: Jesus ressuscitou, não para que a sua memória permaneça viva no coração dos seus discípulos, mas para que Ele mesmo viva em nós, e, n’Ele, possamos já saborear a alegria da vida eterna. (...)Resurrectio Domini, spes nostra – a ressurreição de Cristo é a nossa esperança! É isto que a Igreja proclama hoje com alegria: anuncia a esperança, que Deus tornou inabalável e invencível ao ressuscitar Jesus Cristo dos mortos; comunica a esperança, que ela traz no coração e quer partilhar com todos, em todo o lugar (...) A Ele, Rei vitorioso, a Ele crucificado e ressuscitado, gritamos com alegria o nosso Aleluia!"
Bento XVI, Mensagem Urbi et Orbi, 12/04/09

O Pão que contém o dom de Deus foi repartido; quebrou-se o Vaso e a casa encheu-se de perfume; o grão de trigo, morto na terra, já germina em frutos de Vida. Aquele que morreu, fazendo de Si mesmo o dom do amor do Pai, está Vivo para sempre: Ressuscitou! Que o dom da esperança e da alegria, que brotam do sepulcro aberto na primeira manhã de Domingo, se tornem em nós fonte de Vida Nova que, em cada dia, renova em nós a Páscoa de Jesus...

sexta-feira, 10 de abril de 2009

"Fazei Isto em Memória de Mim"...

Não. Ainda não compreendemos, Senhor... Não tomámos ainda para nós o gesto do pão repartido, em que Te dás todo; não acolhemos o Teu ajoelhar perante a nossa miséria para dela nos lavares; não aceitámos ainda a Tua "soberana dádiva de amor, para todos e para sempre", começada já nesta tarde de Quinta-Feira. Não permitas, Jesus, que caminhemos de mãos fechadas, apertando contra nós, num egoísmo estéril, aquilo que somos, que de Ti recebemos, mas que desejamos possuir com uma avidez mortal.

Faz de nós, Senhor Jesus, o pão repartido pelos últimos deste mundo, por todos os homens e mulheres que connosco caminham, o pão que em si contém o dom da vida plena e do amor até ao fim. Faz de nós o vaso quebrado que, sobre a cabeça de todos os que nos deste como irmãos, derrama o óleo da alegria e da misericórdia e enche toda a Casa de perfume. Deixaste-nos o exemplo e a palavra: "amai-vos como Eu vos amei"... Hoje, faz de nós servos ao Teu jeito...

*rezado na noite de Quinta-Feira Santa - 09/04/09

terça-feira, 24 de março de 2009

No princípio...

Andava às voltas na biblioteca e, por curiosidade, decidi procurar nos "Ensinamentos de João Paulo II" as palavras proferidas pelo Papa no dia 27 de Janeiro de 1990, o dia em que nasci. João Paulo II encontrava-se, então, numa viagem apostólica à Guiné-Bissau. Lá estava o discurso que, em baixo, transcrevo... Profundamente tocado pela ternura de Deus, descobri, hoje, as palavras que quis dizer-me no início do caminho, na certeza de as ter ouvido inúmeras vezes ao longo destes 19 anos:


«São outros tantos convites, que o Senhor vos dirige; e, da vossa parte, existe a responsabilidade de dar resposta a cada um deles. Uma resposta concreta, efectiva, generosa; aberta às exigências e às necessidades urgentes da população da vossa terra; e aberta aos instantes apelos de tantas almas, que esperam pela verdade de Cristo ou se interrogam sobre a mensagem do Evangelho.
Na realidade, ser sacerdote, ser missionário significa ter escutado, como Pedro, o convite a deixar tudo e a seguir Cristo, confiando unicamente na sua promessa tranquilizadora: “ Não tenhas medo, farei de ti pescador de homens ”.
Na oração e na meditação, durante estes anos em que vos preparais para o futuro, para servirdes na difusão do Reino de Deus, tende sempre presente esse diálogo entre Pedro e Jesus. Que haja no vosso íntimo o desejo de falar com Cristo sobre a missão que vos espera; falar-Lhe da escolha que estais a fazer e para a qual vos preparais, em atitude de quem confia na graça do Senhor; falar-Lhe das coisas que Ele nos indicou no “ Pai-Nosso ” e no Cenáculo, durante a última Ceia. Tende un coração aberto para fazerdes o dom da vossa vida a essa missão! E procedei com humildade, bem conscientes de que o serviço sacerdotal é deveras exigente e que a entrega aos outros levar-vos-á a ter de enfrentar situações complexas e difíceis.
Vivei a união com Cristo, com fé ardente, na oração, para poderdes sempre encontrar n’Ele a força necessária para perseverar e vos tornardes, como Ele, “ homens para os outros ”. Ele continua a convidar e a propor a cada um de vós: “ Farei de ti pescador de homens ”.
»

quinta-feira, 19 de março de 2009

"Vou seduzir-te até ao deserto e falar-te ao coração..."


Resta apenas o silêncio e a paz do coração... Chegado do encontro de intimidade conTigo é-me impossível silenciar o coração, irrequieto no desejo de continuar a sussurrar o meu pequeno "amo-Te". Hoje não resisto, Senhor. Como poderia eu não escutar a voz d'Aquele que me cativou com a sua misericórdia e amor eternos? E deixo-me ir até ao deserto, guiado pela Tua mão, onde caem as máscaras e as aparências, onde não há lugar para a banalidade, onde quebras as minhas ilusões, onde a Verdade prevalece... Aqui onde só restamos nós, face a face, os meus pequenos nadas e a deslumbrante sarça que arde sem se consumir, que diz, vezes sem conta, "Eu sou Aquele que amo". Esta noite, Tu sabe-lo, desejei de todo o coração ser aquela mulher que todos sabiam pecadora, aquela que, profundamente seduzida por Ti, não teve medo de se prostrar aos Teus pés e beijá-los, na humildade das suas lágrimas, aquela que, antecipando o dia em que, por um pouco, repousarias na paz do sepulcro, Te ungiu com perfume, a Ti o Ungido do Pai. Só depois percebi, ó Deus apaixonado, que enquanto me perdia nestes sonhos de criança segura no colo do Pai, eras Tu que te ajoelhavas diante de mim, saravas as minhas feridas com as lágrimas da Tua compaixão e me ungias com o Espírito que, na derradeira hora do amor até ao fim, entregaste àqueles por quem Te davas. Pode um coração pequenino e frágil resistir ao seu Amado, que se dá todo? No deserto, onde "sei que a fonte mana e corre, embora seja noite", diante do Esposo que se esvazia para que eu viva, que não teme ajoelhar-se para perdoar, coloco-me todo em Ti e, enraizado na esperança, caminho para a Jerusalém do Alto, onde poderás desposar-me na fidelidade, na misericórdia e no amor... Uma vez mais, não resisto olhar-Te nos olhos, para dizer "amo-Te"...

sábado, 14 de março de 2009

“Um Santo nunca é para imitar, é para inspirar. Logo há que destronar a auréola que o envolve para agarrar a santidade.”
Pe. Vasco Pinto Magalhães, sj


Partilho convosco um texto que escrevi à uns tempos, como introdução a um trabalho sobre um dos Santos da Igreja. Neste tempo quaresmal é bom deixarmo-nos interpelar pela santidade daqueles que chegaram perto de Deus, como ponto de partida para o nosso "regresso a Casa"...

Há nos Santos qualquer coisa que atrai o comum dos mortais. Precisamos constantemente de referências, de modelos que nos indiquem a meta, de super-homens que nos façam acreditar que somos capazes de grandeza. É frequente tomarmos os Santos por semi-deuses, cuja grandeza reside naquilo que podem fazer por nós, naquilo que de bom nos podem obter. No entanto, a Igreja diz-nos que o valor da santidade não reside aí, antes se identifica na verdadeira comunhão com Deus, aquele que é verdadeiramente Santo, no caminho que tantos homens e mulheres percorreram antes de nós, actualizando as palavras e os gestos de Jesus de Nazaré, Filho de Deus e Salvador do Homem. Ser santo é antes de mais ser companheiro de Jesus, aceitar comprometer-se na relação pessoal com Ele, na disponibilidade para acolher o Seu Espírito, na certeza de se ser amado por Deus. E longe de recusar o valor do Homem e da sua condição, a santidade constrói-se com aquilo que somos, com os dons e as fragilidades que nos são próprios, e no ir ao encontro de Deus, procurando-O no mundo e naqueles que nele caminham. Ser santo é ter a capacidade de abrir-se ao Ser, que ultrapassa o que somos, é procurar, a cada momento, tocar a Luz que dissipa toda a escuridão. No caminho da Cruz, que se abre na Ressurreição, na Vida plena de Deus, o santo aceita a vontade d’Este e torna-se lugar da Sua presença e de encontro d’Ele com os homens e as mulheres do seu tempo. De olhos fixos em Cristo Ressuscitado, que lhe deixa a promessa da Vida, e simultaneamente no momento presente em que caminha, o santo intui os sinais dos tempos e faz-se servo daqueles que, como irmãos, lhe foram confiados. E neste peregrinar, lado a lado com Jesus, de regresso a Casa, o homem tocado e comprometido com Deus, deixa feixes de santidade, abre caminhos de encontro e comunhão com Ele, prontos a serem percorridos por aqueles que vierem mais tarde.


Porque não começar hoje?

quarta-feira, 11 de março de 2009

"Dilatai o vosso coração"...

Oiço a voz do Senhor, que fala por Paulo, a pedir-me mais...

"A nossa boca tem-se aberto para vós, ó coríntios; dilatou-se o nosso coração. Não é estreito o espaço que tendes em nós; o vosso íntimo é que se estreitou. Pagai-nos com a mesma moeda - como a filhos vos falo: dilatai, também vós, o vosso coração."
2 Cor 6, 11-13

sexta-feira, 6 de março de 2009

"Nas fontes da salvação saciai-vos na alegria"


Em dia de perdão e reconciliação, num tempo particularmente propício à "releitura de vida", quero partilhar convosco uma oração que escrevi num destes dias, num daqueles momentos em que sentimos a presença de Deus queimar no coração...

Jesus, Palavra do Pai, tem misericórdia de mim...
Caudal das águas vivas,
que brotas do Coração de Deus,
sacia-me,
emerge-me em Ti,
derrama-Te na profundidade do ser que me anima.

Toma o Teu lugar no espaço mais interior de mim,
o lugar que apenas Tu podes preencher,
mas que não pode conter a Tua Totalidade;
aí, irradiando a paz da Tua presença,
irrompe uma nascente viva e torrencial,
uma nascente que torne dom
tudo o que as suas águas tocarem.

Que corra do meu coração
a torrente da caridade,
levando-me todo,
como dádiva, com ela;
que esta torrente,
nascida do Coração do Pai,
entregue pelo Teu "Coração Rasgado",
e permeada, na essência, pelo Espírito,
se derrame sobre todos os que vêm até mim...

Profundamente trespassado pela força vital,
que vem de Ti para mim,
sublimado pelo abismo do Amor,
que anima a Trindade,
consagrado e enviado aos homens,
pelo Espírito, que faz todas as coisas novas,
eu serei, em Ti,
o sinal daquela Unidade,
pela qual, és Tudo em todos.
Amen.

domingo, 1 de março de 2009

"Voltai-vos para Deus"...

"Deus não se cansa de retomar o caminho connosco. Podemos acreditar que uma comunhão com ele é possível e assim nunca nos cansamos de, também nós, retomar sempre de novo o combate. Não perseveramos para nos apresentarmos diante de Deus com o nosso melhor aspecto. Não, aceitamos avançar como pobres do Evangelho, que se confiam à misericórdia de Deus."

Irmão Alois de Taizé
Quaresma. Vêm-me à memória cinco imagens: a cruz que trago comigo, uma conversa no carro, um menino a sorrir, uma mulher deitada na rua e um livro do Abbé Pierre...

1. A Cruz. É interessante como já recebi duas cruzes daquelas mãos; esta foi oferecida depois de uma missa fora de horas e de uma conversa (quase um monólogo) sobre a minha vida e a minha vocação, com jovens universitários, em missão. Convidaram-me para ir falar sobre a presença de Cristo no meu caminho e a minha resposta à sua entrega de amor. Fez-me bem fazer memória dos inúmeros acontecimentos que se tornaram "sacramentos" de Deus em mim; acima de tudo, fez-me bem redescobrir a simplicidade do testemunho, aprendida no olhar dos que me escutavam e na intimidade da celebração eucarística.

2. A conversa. Era a última noite em casa, depois do Carnaval, e, numa conversa a três percebi como andava com um défice de autenticidade na minha vida. Quando o objectivo era resolver o défice de presença junto de duas pessoas essenciais para mim, elas lembraram-me como é fundamental ser fiel a mim mesmo e Àquele que me chamou, mesmo que isso implique ser diferente.

3. O menino. Diziam-me elas que imensas pessoas ficavam surpreendidas com aquela imagem de Jesus menino a sorrir. Eram três mulheres, irmãzinhas de Jesus, congregação feminina que segue a espiritualidade de Charles de Foucauld, e cujo carisma é serem presença de Cristo e da sua Igreja, no meio da realidade do homem, de forma pobre e humilde. Ouvimo-las falar do conceito de deserto, na linguagem espiritual, como forma de viver a Quaresma. Uma vez mais, ouvi-O chamar-me a atenção para a "irradiação eucarística" e para a "unidade do Cristo total", conceitos que me tocam de forma especial...

4. A mulher. A princípio nem reparei nela; depois, através de alguns colegas que se aproximaram dela, dirigi-me também até ao lugar onde ela estava. Disse-me o seu nome e explicou-me que estava a dormir na rua como forma de protesto, apesar de ser uma mulher doente, por que, em vão, tinha esperado demasiado tempo por uma indeminização que nunca chegou. Tentámos demovê-la do protesto, falámos da falta de dignidade da situação, não serviu de muito. Chocou-me a forma como todos desviavam o olhar daquela mulher; começava, então, a caminhada que dava início à Eucarístia, com a Liturgia da Palavra durante a subida do monte. Interroguei-me se as pessoas, que entusiasmadas caminhavam escutando a Palavra, não terão deixado ficar Cristo, sofrendo naquela mulher, no princípio do caminho.

5. O livro. Vindo directamente do Coração de Deus, de um mendigo que montou lá a sua tenda, recebi um livro do Abbé Pierre, cujo título é "Obrigado Senhor". De vez em quando, vou passando os olhos por aquelas páginas e, num destes dias, descobri a "desilusão entusiasta"; percebi como Deus nos desilude, nos limpa da ilusão que são as imagens que vamos criando d'Ele, de nós próprios e dos outros. Deixo-vos uma frase especial: "Sabei de vez em quando apagar tudo/ para que as estrelas voltem".

É por aqui que vai passar a minha quaresma. Deixando que Ele destrua as ilusões, para viver uma autênticidade humilde; acompanhando-O ao deserto, para me deixar inundar de um silêncio orante e operante; descobrindo-O no outro, para aprender d'Ele o serviço à comunhão e à verdade. Tudo isto de forma fiel e confiante. É apagando as luzes artificiais que fui colocando em mim, luzes que tantas vezes me incandeiam, que redescobrirei a beleza da luz das Suas estrelas.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Tocar a Unidade de Deus...

"O que existia desde o princípio,
o que ouvimos,
o que vimos com os nossos olhos,
o que contemplámos e as nossas mãos tocaram
relativamente ao Verbo da Vida,
(...)
o que nós vimos e ouvimos,
isso vos anunciamos..."
1 Jo 1, 1.3a
Neste entardecer, na hora em que, pela janela, já alcanço as estrelas que despontam, no crepúsculo de mais um dia, desejo contemplar-Te. O meu coração, Senhor, saciado em tantas fontes, onde busco o infinito, o eterno, o belo, está ainda inquieto; estás tão perto, meu Deus, que apenas na fragilidade da minha condição, posso fechar-Te as portas da minha vontade, do meu sentir, da minha liberdade, do meu ser...
"Que eles sejam um, como Tu e Eu somos Um". É este o grito que emerge das minhas entranhas, o clamor do lugar mais íntimo do ser que me move: que sejamos Um em Ti. Que, por meio do Espírito que queima, purifica, aquece, ilumina e inflama no amor, sejamos conTigo Um só, na comunhão com o Teu Filho e com o mesmo Espírito, comunhão vivida nos irmãos, com os quais creço e edifico o Teu Corpo Místico, onde me abres as portas da Tua vida divina.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Revisitar as origens...

«Hoje caminho... queria ver já a meta, perceber o desfecho da percurso, ter a certeza que estás lá de braços abertos à minha espera. Sei que os Teus projectos vão-se revelando pouco a pouco, ao Teu ritmo, segundo a Tua escala temporal, a eternidade, e nesta busca vou-Te encontrando em cada irmão e em cada acontecimento desta vida, doada por Ti. Só tenho uma certeza... que o Teu Amor repousa em mim... é, nesta confiança, que avanço, ainda que às escuras, porque caminhas à minha frente. Quero aqui deixar as pegadas deste caminho, escolhido por Ti, para que por meio de mim outros encontrem a Tua luz, se deixem fazer morada do Teu Amor...»


Há precisamente um ano atrás, escrevia as primeiras palavras d'O Amor de Deus repousa em mim. Recordo-me de chegar a casa, vindo da tomada de posse do Arcebispo da minha diocese (Évora), D. José Alves, profundamento tocado pelo cântico homónimo do blog, desconcertado pela certeza de ser amado por Deus, e por isso consagrado e enviado n'Ele e por Ele a anunciar a Palavra da vida e da paz. Durante um ano, partilhei aqui o caminho percorrido, lado a lado com Deus, caminho feito de sonhos, de dúvidas, de partidas e chegadas, de encontros e saudade, de esperança e desilusão, de presença e ausência, de luz e sombras... Mas acima de tudo, um caminho onde permaneceu, em cada instante, a dinâmica criadora e renovadora do amor de Deus.

Espero que este pequeno lugar, perdido nos antípodas do ciberspaço, continue a ser lugar de encontro entre Deus e os homens e mulheres, que procuram um sentido e uma Verdade para as suas vidas...

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

De volta a casa (Leiria), depois da experiência "Integrar a diferença", na Casa de Saúde do Telhal, e do Retiro, na última semana, volto aqui para responder ao desafio que o Joca me deixou no "Porque nada é impossível para Ti"... A proposta era abrir o livro de cabeceira, ou outro de especial preferência, na página 161, ler a frase da linha 5 e transcrevê-la aqui; no dito lugar está escrito:


"Depois me reconheceu pela voz, perguntou se eu não era a congressista que abordara a relação profética de Vieira com o mundo da época, e falou que eu estava completamente errada, que eu não fazia nem ideia de quem era Vieira."

A citação é do livro "A Eternidade e o Desejo", de Inês Pedrosa, que me ofereci a mim mesmo no dia dos meus anos. É um romance que descreve a viagem de uma portuguesa, Clara, que parte para o Brasil em busca de um amor perdido para sempre, da reconciliação consigo mesma, da luz (era cega!) que bebia dos texto do Pe. António Vieira, que tinha como mestre. Deixo apenas uma frase que, em jeito de abertura, se apresenta num daqueles prolongamentos da capa, dobrados para dentro do livro, dos quais não sei o nome: "Vieira não precisava de nada nem de ninguém. No fundo, acho que lhe bastava a consciência de que tinha Deus dentro de si - ou a Eternidade, ou o conhecimento, como preferires. Era um precursor; fervia-lhe no peito uma verdade e só com ela tinha ligação."

Deixo o desafio a todos os bloguistas que me visitarem... Boas leituras para todos ;)

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

"Cada instante em mim foi vivo"...

"Apesar das ruínas e da morte,
Onde sempre acabou cada ilusão,
A força dos meus sonhos é tão forte,
Que de tudo renasce a exaltação
E nunca minhas mãos ficam vazias."

"Se tanto me dói que as coisas passem
É porque cada instante em mim foi vivo
Na luta por um bem definitivo
Em que as coisas de amor se eternizassem."

Sophia de Mello Breyner Andresen


O tempo vai passando por mim e sinto paz; não uma paz livre de tensões e combates interiores, mas uma paz trazida pela certeza que vou caminhando na esperança de uma felicidade que me ultrapassa e está para além dos meus limites, mas que é fruto da promessa de um Deus que me ama. Desta vez o dia dos meus 19 anos foi diferente de qualquer outro aniversário no passado, radicalmente diferente. As pessoas que, no coração, trago mais perto do lugar de Deus, porque as amo, chegaram-me apenas pelo som alegre e ternurento das suas vozes, trazidas por meio de um telemóvel. A distância, que vivi e sofri nos últimos tempos ao pensar naquele dia, foi destronada por uma imensa paz, por uma certeza confiante de estar no lugar certo e pela consciência de que aqueles de quem senti a falta estão verdadeiramente presentes na minha escolha, nos meus gestos, na minha vida porque ajudaram a construir e a crescer aquilo que, hoje, sou. Ficou a presença, o conforto e o esforço dos colegas e amigos da Comunidade do Seminário que, como lhes disse, tornaram o meu dia uma oportunidade de celebrar a nossa história com Deus, a vida que resulta das maravilhas que faz por amor.