sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Espero-Te...

«Deixa um momento as tuas ocupações habituais, ó homem, entra um instante em ti mesmo, longe do tumulto dos teus pensamentos. Põe de parte os cuidados que te apoquentam e liberta-te agora das inquietações que te absorvem. Entrega-te uns momentos a Deus; descansa por algum tempo em sua presença.

Entra no íntimo da tua alma; remove tudo, excepto Deus e o que possa ajudar-te a procurá-l'O. Encerra as portas da tua habitação e procura-O no silêncio. Diz a Deus, de todo o coração: "Procuro o vosso rosto; o vosso rosto, Senhor, eu procuro".

E agora, Senhor meu Deus, ensinai ao meu coração aonde e como hei-de buscar-Vos, aonde e como poderei encontrar-Vos.
(...)

Olhai, Senhor, para nós; ouvi-nos, iluminai-nos, manifestai-Vos a nós. Vinde morar connosco e seremos felizes; sem isso passaremos muito mal. Tende compaixão dos nossos trabalhos e esforços para Vos alcançar, porque sem Vós nada podemos.

Ensinai-me a procurar-Vos e mostrai-me o vosso rosto; porque não posso procurar-Vos se não mo ensinais. Não posso encontrar-Vos, se não Vos mostrais. Desejando Vos procurarei, e procurando Vos desejarei; amando Vos encontrarei e encontrando Vos amarei.»

Sto. Anselmo, «Proslógion»



Vieste. Vens. Virás. Ontem, hoje, amanhã e sempre... Chegas sempre com a novidade radical e a alegria transbordante da Boa Notícia do Reino. Apesar das ruinas que vou amontoando aqui dentro, dos sinais de destruição que me toldam o olhar, fazes-me acreditar que a tua esperança coloca já o meu coração em festa. Não devo senão deixar-me alcançar por ti e enamorar-me de novo. Espero o dom de um coração mais humilde e fiel. Espero-te...

terça-feira, 17 de novembro de 2009

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Nas Tuas mãos...


«In manus tuas commendo spiritum meum... Nas mãos que partiram e vivficaram o pão, que abençoaram e acariciaram as crianças, que foram trespassadas, nessas mãos que são como as nossas, das quais nunca conseguimos saber o que farão do objecto que seguram, se o vão quebrar se vão dele cuidar - mas cujos caprichos, disso estamos certos, são cheios de bondade, e nunca visam senão abraçar-nos mais ciosamente, nas mãos doces e poderosas que chegam à medula da alma, que formam e que criam, nessas mãos por onde corre um amor tão grande, é bom entregarmos a nossa alma, sobretudo quando sofremos ou quando temos medo. E há uma grande felicidade e um grande mérito em fazê-lo.»

Pierre Teilhard de Chardin

domingo, 1 de novembro de 2009



No claustro há sempre luz e sombras. Há pedras gastas pelos passos dos séculos e memórias que vagueiam sem destino nem sentido. No claustro há vivos-mortos e mortos que reviveram, há vidas esquecidas, resignadas, mas há as que foram entregues, doadas. No claustro há silêncio ou murmúrios ou vozes alegres que cantam a vida. Há máscaras que teimam em não cair, há caídos que só desejam poder mascarar-se, há vidas nuas, transparentes, por vezes feridas pelo tempo e pela história. No claustro há duas portas: uma para o mundo, onde se descobre Deus nos dias e nas horas de encontro ou desencontro, nas ruas e nas casas trespassadas de egoísmo ou comunhão, no sacramento do outro, na «epifania do rosto»; a outra para Deus, onde se revela a beleza do mundo e da vida, o sentido da história de um lento e tímido peregrinar, onde se escuta o grito dos abandonados e a melodia apaixonada de uma canção de amor.
Em mim há um claustro, igual a este outro, feito de sonho e fogo e barro, construído por mãos sem número, pela força de uma verdade constantemente procurada e acolhida. Caminho agora, sereno, sob as abóbadas do claustro. Na quietude do entardecer, vejo-O e sorrio: é «Deus que percorre o jardim pela brisa da tarde».

24 de Outubro de 2009, ao entardecer...