quarta-feira, 22 de junho de 2011

Porque os ídolos que adoramos no lugar de Deus têm pés de barro, porque facilmente os mascaramos sob algum disfarce conveniente, porque, afinal, a vida tem de orientar-se para Alguém que lhe dê sentido e beleza verdadeiros, e finalmente, porque a aprender a amar é uma experiência feita em e com Deus, deixo aqui estas palavras do Santo Padre que puseram em causa a minha vida desde a primeira vez que as li... 
 
«Revela-se deste modo a realidade enganadora do ídolo: ele é pensado pelo homem como algo de que se pode dispor, que se pode gerir com as próprias forças, ao qual se pode aceder a partir de si mesmo e da própria força vital. A adoração do ídolo, em vez de abrir o coração humano à Alteridade, a uma relação libertadora que permita sair do espaço limitado do próprio egoísmo para aceder a dimensões de amor e de dom recíproco, fecha a pessoa no círculo exclusivo e desesperador da busca de si mesmo. E o engano é tal que, adorando o ídolo, o homem se encontra obrigado a gestos extremos, na tentativa ilusória de o submeter à própria vontade.
 
[...]
 
Onde Deus desaparece, o homem cai na escravidão de idolatrias, como mostraram, no nosso tempo, os regimes totalitários e como mostram também diversas formas de niilismo, que tornam o homem dependente de ídolos, de idolatrias, escravizando-o. Em segundo lugar, a finalidade primária da oração é a conversão: o fogo de Deus que transforma o nosso coração e nos torna capazes de ver Deus e, assim, de viver segundo Deus e de viver para o próximo.
 
[...]
 
Então, a autêntica adoração de Deus consiste em dar-se a si próprio a Deus e aos homens, a verdadeira adoração é o amor. E a autêntica adoração de Deus não destrói, mas renova e transforma. Sem dúvida, o fogo de Deus, o fogo do amor consome, transforma e purifica, mas precisamente por isso não destrói mas, ao contrário, cria a verdade do nosso ser, volta a criar o nosso coração. E assim, realmente vivos pela graça do fogo do Espírito Santo, do amor de Deus, somos adoradores em espírito e em verdade.»
 
Bento XVI, Audiência Geral de 15 de Junho de 2011

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Volta, Senhor, e toma posse daquele que é Teu...

Mais do que tudo, odeio
Tantas noites em flor da Primavera,
Transbordantes de apelos e de espera,
Mas donde nunca nada veio.
Sophia de Mello Breyner Andresen

Há algum tempo que deixei de esperar a presença d'Aquele que é o Senhor do meu tempo e da minha história... A Sua presença tornou-se ausência e abandono, o jardim bem irrigado converteu-se em árido deserto. Queria beber das fontes do Seu Coração, mas a sua água não chega até mim. Procuro os Seus sinais em vão, tento chegar até Ele mas não O encontro. Permanecem apenas o vazio e a desolação... E tudo isto torna mais forte o sentimento que me preparo para dar aos outros o que não tenho e a insegurança de um dia ter de apontar caminhos que eu mesmo não estou disposto a percorrer.  Hoje, não sei qual o melhor caminho, nem compreendo como encontrar a saída deste escuro labirinto que encontro em mim...

No fundo, só queria a oportunidade de ser feliz. Só queria saber o que Deus espera de mim e ter força para realizá-lo ou deixar que o Senhor o realize em mim. Quero esperar que o Deus fiel cumprirá as suas promessas, ter a certeza que Ele não me deixará abandonado. Só sei que não quero nem posso acordar todas as manhãs e não ter um motivo para me levantar e olhar a vida, na sua beleza e verdade... Só sei que é de noite e mesmo as pequenas estrelas que ainda brilham  me vão recusando a sua luz...

Volta, Senhor... Toma posse daquele que é Teu...

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Quando vou decidir-me a deixar que o Senhor seja o meu Deus?

Escrito em Évora, a 13 de Maio de 2011... É sobre a minha busca pessoal de sentido, sobre as perguntas fundamentais com que me confronto hoje e para as quais tardo em encontrar resposta...

Não haverá um lugar seguro, um paraíso perdido para onde possamos fugir quando parece que a vida já não pode trazer novidade e que tudo o que construimos está destinado ao fracasso?
Tenho tido a persistente sensação de que preciso de recomeçar tudo, de sair do ritmo instalado e estéril, de me evadir de todos os esquemas pré-concebidos com que já formatei as relações e a realidade. É como uma ânsia desesperante de novidade e liberdade, nas quais já não tenho de procurar a atenção dos outros nem mendigar o seu amor. Tenho sede de vida em verdade, da beleza que permanece encerrada no íntimo do mundo, do amor que não desilude nem domina...
No fundo, sei que a resposta posso encontrá-la no Coração de Deus, se me dispuser a repousar n'Ele, a permanecer ancorado ao seu Amor, cheio de novidade e ternura...

Quando vou desejá-lo?

E mais, quando vou decidir-me a deixar que o Senhor seja o meu Deus?

terça-feira, 31 de maio de 2011

Escrito em Évora, a 13 de Junho de 2010... Faz sentido, talvez mais agora do que quando o escrevi...

"Não cairás no abismo do nada,
mas no abraço seguro de Deus
cujo amor curará todas as tuas feridas."
H. Nouwen

Quem decide empenhar-se neste caminho de ser inteiramente Teu, meu Bom Deus, não pode fechar os olhos à fria e cruel solidão que, por vezes, irrompe por todos os cantos escuros do coração e da inteligência. Nesta noite, sinto o leve passear da solidão pelos meandros frágeis do que sou, murmurando o seu triste canto, que excita o sentimento e endurece a vontade. Oiço-a falar-me de velhos sonhos, recordar-me rostos passados e sei que quer fazer-me crer que não podes levar-me a parte alguma. Ela diz-me que morrerei estéril, caído no vazio, vergado sob o seu peso que não deixará de crescer.

Apesar de tudo isto, eu sei que és maior que a minha solidão. Tenho a certeza que permaneço fielmente guardado no Teu Coração, amado e querido para sempre. Sinto que continuas a falar-me ao coração nas vozes de tantos homens e mulheres que partilham os meus dias e o meu viver. Sei que não deixas de chamar-me a ser o máximo do que posso ser e permaneces enviando-me ao mundo, para ser sinal do Teu Jesus e instrumento do Teu Espírito... Mesmo não querendo carregar a cruz do Evangelho na minha vida, abraço-a até saber amá-la e querê-la, pela salvação do mundo.

Fica comigo, meu Pai, e faz vibrar dentro de mim a Tua alegria; acerta o pulsar do meu coração ao Teu e que não deixe de fazer-se em mim, segundo a Tua Palavra. Adoro e Confio.