domingo, 1 de novembro de 2009



No claustro há sempre luz e sombras. Há pedras gastas pelos passos dos séculos e memórias que vagueiam sem destino nem sentido. No claustro há vivos-mortos e mortos que reviveram, há vidas esquecidas, resignadas, mas há as que foram entregues, doadas. No claustro há silêncio ou murmúrios ou vozes alegres que cantam a vida. Há máscaras que teimam em não cair, há caídos que só desejam poder mascarar-se, há vidas nuas, transparentes, por vezes feridas pelo tempo e pela história. No claustro há duas portas: uma para o mundo, onde se descobre Deus nos dias e nas horas de encontro ou desencontro, nas ruas e nas casas trespassadas de egoísmo ou comunhão, no sacramento do outro, na «epifania do rosto»; a outra para Deus, onde se revela a beleza do mundo e da vida, o sentido da história de um lento e tímido peregrinar, onde se escuta o grito dos abandonados e a melodia apaixonada de uma canção de amor.
Em mim há um claustro, igual a este outro, feito de sonho e fogo e barro, construído por mãos sem número, pela força de uma verdade constantemente procurada e acolhida. Caminho agora, sereno, sob as abóbadas do claustro. Na quietude do entardecer, vejo-O e sorrio: é «Deus que percorre o jardim pela brisa da tarde».

24 de Outubro de 2009, ao entardecer...

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