segunda-feira, 12 de abril de 2010

Sair do nosso pequeno mundo é um processo difícil e exigente. Implica crescer, amadurecer os afectos e aceitar confrontarmo-nos com os outros e com o mundo, sem que eles tenham que corresponder aos nossos desejos mais imediatos, às imagens que já construimos e que gostamos de designar "perfeição". Sair de nós mesmos é um movimento que nos provoca um medo escondido de não sermos aceites, e, no entanto, só desta forma podemos aproximar-nos do centro do mistério que é o ser humano: ser com os outros e para eles.


Ontem, não me apetecia voltar. Talvez, porque a última semana tenha sido um pequeno regresso ao meu mundo, aos hábitos confortáveis de outros tempos, aos lugares e às relações onde tenho gosto em ser mimado. Este desejo infantil, com que me vou confrontando com maior ou menor frequência, é o mesmo que me faz resistir ainda a acolher aqueles que não se encaixam nas minhas "categorias", aqueles que eu mesmo tornei estranhos ao meu caminhar.

Apesar de tudo, sei que ser de Deus traz consigo a exigência de sair de mim e entrar na dimânica de uma loucura ainda maior que aquela com que o mundo se me apresenta: a loucura do amor. A resposta à loucura de um mundo que não sabe o quer, que desconhece o lugar para onde caminha, um mundo que avança aos empurrões entre o desejo de plenitude e a necessidade de encontrar satisfações imediatas para o coração e para o intelecto, tem que passar pelo amor.

Esta consciência não nega um facto fundamental com que me deparo: estou profundamente enraizado no mundo, padeço das mesmas loucuras e opto pelos mesmos critérios, e tantas vezes tento disfarçá-lo com umas pitadas pseudo-intelectuais de cristianismo. Ainda assim, não esmorece a grande esperança que me anima: ver crescer em mim o dom de Deus, o amor que progressivamente vai dando outro sabor à vida, ao tempo e às relações. Um secreto sabor de eternidade que traz a alegria e a paz. Escutar o Senhor, falar-Lhe de mim, dos meus companheiros de caminho, do mundo, permanecer no silêncio, experimentar a amizade: é aqui que se vai consolidando a certeza da minha "cristificação", que começa desde já.

Hoje, comecei o dia a cantar... Ainda meio ensonado, as primeiras palavras que cantarolei terão sido, talvez, a expressão de um desejo palpitante no coração:

O Reino de Deus é um Reino de paz, justiça e alegria.
Senhor, em nós vem abrir as portas do Teu Reino. ~
[Cântico de Taizé]

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