quinta-feira, 15 de abril de 2010

Há razões para a alegria? Creio que sim. Acredito tê-las, mesmo quando o rosto se endurece, o coração esfria e assumo a minha aparente indiferença. Às vezes, tenho a impressão que se torna necessário esconder a alegria que vibra no coração, que devo protegê-la para não ser arrebatada pelas vicissitudes inquietantes dos dias que vou experimentando. Sei bem que é uma contradição, um disfarce mal resolvido para o medo de arriscar dar de mim com uma gratuidade que não tolera cálculos e medidas racionais. A alegria tem que tornar-se contagiante, deve transparecer tão claramente nas nossas vidas que mova outros à mesma experiência.


A propósito disto, acabei de ler um texto que me perturbou seriamente. Transcrevo algumas linhas, as que se mostraram mais interpeladoras da minha vida.

"Não sei bem o porquê de apetecer ficar de braços cruzados, o porquê de uma letargia quente, envolvente, que vicia. Não sei que absurdo fascínio virá da condição de couch potato, da facilidade ridícula de viver através das histórias dos outros – dos livros, dos filmes, dos relatos… Viver de sonhos, daquilo que não é; viver dos sonhos renovadamente adiados. No fundo, saber o que se tem dentro, saber o tanto que se pode ser e fazer. Mas deixar tudo o que germina ao sabor do adiar constante, ao sabor dos vários disfarces - sob os quais está e estará sempre a eternamente infundada justificação de deixar para amanhã, para mais tarde, para quando tiver tempo."
[Ana Rita Neves Lima, http://www.essejota.net/]

 A cómoda inércia que lentamente se instala e toma conta de sucessivas dimensões da nossa interioridade, que progressivamente se estende às relações e chega mesmo a pôr em causa a fé, a relação com Deus e a dedicação à Igreja é um vício. Pela minha parte, considero-me um viciado...
 
"Como ganhar coragem de ser autêntico?
Como deixar o conformismo de tantas justificações
para passar realmente a ser?

Levantar da cama e abrir as cortinas:
do quarto e do coração."

Num dia em que o sono venceu o combate entre ficar na cama e assumir o compromisso de começar o dia a louvar o Senhor com a comunidade, não há palavras mais actuais e desinquietantes...

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