quarta-feira, 21 de abril de 2010

No fim deste dia, quero partilhar algumas coisas que me têm ocorrido acerca da vocação, nesta semana dedicada especialmente à oração pelas Vocações. Diversas situações e acontecimentos têm-me levado a procurar perceber com maior clareza esta dinâmica entre um amor que chama e desinstala e uma resposta que se concretiza precisamente na experiência mais profunda deste amor. Por vezes, tendemos a interpretar esta linguagem como se amar e ser amado fosse um doce sonho, no qual tudo nos convém e alegra, onde tudo é realização e ausência de dor.

Com muita pena minha, o amor não é nem pode ser isto, e, por conseguinte, Deus não pode querê-lo nem desejá-lo para nós. Esta “felicidadezinha” tem um leve travo a utopia, a desejo nunca concretizável, como se a vida, quando confiada a Deus, fosse um triunfal passeio de fama rumo a um horizonte bem definido e pensado por nós.


A vocação pronunciada por Deus em nós, seja ela qual for, ultrapassa os limites do que pode ser racionalizado e medido. É um verdadeiro salto no abismo, sem que saibamos qual o passo seguinte, no qual só podemos confiar num Amor que, muitas vezes, nos parecerá ausente. A resposta não é dada de uma vez para sempre, e aceitar dizer sim é confrontarmo-nos com as múltiplas resistências que vamos colocando ao projecto de Deus, é enfrentar um mistério de densas trevas que trazemos ancorado no fundo da alma.

Se ficar por aqui, quase parece que ser “vocacionado” é o pior que podemos desejar. Contudo, descobri que a beleza da eleição de Deus, que não deixa ninguém de lado, é a sua imensa gratuidade: na nossa debilidade somos acolhidos por Alguém que deseja levar-nos ao máximo do que podemos ser, Alguém que não tem medo de sujar as mãos, mas que Se dá a Si mesmo e quer comungar do que somos.
Nesta noite de trovoada, encontrei uma analogia que me ajudou a compreender um pouco mais da minha atitude diante deste Deus que ama e chama. Facilmente fico deslumbrado pela luz do relâmpago que rasga o céu e ilumina a noite, mas o forte e sonoro trovão arrepia-me e perturba a aparente calma desta hora. Assim também eu, apesar da beleza dos sinais da graça do Senhor em mim, continuo a resistir à sonora e desinquietante voz de Deus, que pede uma confiança absoluta e uma coragem firme, neste desafio de ser aquilo que Ele quer.

“Deixo-vos a paz; dou-vos a minha paz. Não é como a dá o mundo, que Eu vo-la dou. Não se perturbe o vosso coração nem se acobarde” [Jo 14, 27]

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