quarta-feira, 6 de janeiro de 2010


«Tende confiança. Sou Eu, não temais.» (Mc 6,50)

O Senhor sabe o que faz. Experimento esta certeza, ao confrontar a minha vida com o Evangelho, que a Igreja reparte durante esta semana. Hoje, a Liturgia apresenta-nos Jesus a enviar os discípulos sozinhos para a outra margem do lago, depois do grande sinal da multiplicação dos cinco pães e dois peixes. Ele permanece mais algum tempo com a multidão e retira-se, depois, para falar a sós com o Pai. Os discípulos, ainda fascinados pelo milagre, depressa se vêm no desespero de uma tempestade ameaçadora. No entanto, Jesus sabe que eles precisam da sua presença e vem, caminhando sobre as águas, ao encontro dos seus amedontrados amigos. O medo toldou-lhes de tal modo os sentidos que julgam ver um fantasma e será necessário que ressoe a voz do Senhor para acalmar a tempestade no coração dos discípulos...

Nestes dias, sinto-me a experimentar na minha carne esta Palavra. Eu também estive lá, também vi a multiplicação, não a dos pães e dos peixes, mas a da fé e do amor. Também me deixei adormecer na doçura dos dons de Deus e quis saboreá-los de qualquer maneira, no imediato, quando sei bem que o dom só existe para ser novamente doado. Foi por isso que o Senhor me mandou que navegasse até à outra margem da fé e da esperança, num barco frágil, tolhido pelas vagas do mar e açoitado pelo forte vento. É assim que Ele me vai ensinando que não devo assumir egoisticamente os seus dons nem usá-los para sucessos fáceis ou triunfos vazios; é assim que, demoradamente, vou compreendendo que devo enfrentar a realidade com um olhar de amor e esforçar-me por humanizar este mundo, que também é dom... Então, o Senhor vem. Na escuridão da tempestade os meus fantasmas tomam conta do meu entendimento, da minha memória, da minha vontade e sinto-me abandonado aos seus caprichos; julgo até ver no Senhor, que vem, os fantasmas que me atormentam e, por vezes, vou vivendo assim, como se Ele não passasse de um fantasma. Mas a Palavra é viva e eficaz. A voz do Mestre comunica a paz, reunifica as partes dispersas do meu coração e envia-me de novo a repartir a minha vida e a minha alegria pelo irmão... É o desafio da confiança, para o qual é necessária a coragem de agarrar com força a sua mão, mesmo quando não vemos para além da confusão. Hoje, o chamamento que o Senhor me dirige pede somente que eu me disponha a escutá-l'O e que acolha na minha dispersão a sua Presença viva.

Quando decidir dar espaço ao silêncio, eis que virá o Senhor e à sua voz terei vida, para repartir por todos...

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