quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Na inquietude tranquila...

Um aquário vazio. Olho para ele e lembro-me de mim. Sim, o peixe morreu esta noite e não me perguntem as causas do óbito. O importante é que olho para cima da estante e vejo que está lá o aquário, tem umas pedrinhas azuis no fundo, tem água quase até ao limite, mas o peixe não está lá. E olho para dentro de mim reconheço as memórias, encontro os instantes de felicidade e de esperança, percebo a presença d'Aquele que habita e inunda as profundezas, mas eu não estou lá. Simplesmente saí, tranquei a porta e deixei a chave lá dentro. E há qualquer coisa, que ainda não discerni, que teima em bloquear a entrada e não me deixa voltar a mergulhar na intensidade das emoções e dos pensamentos com a mesma liberdade e alegria que antes, não me permite sentir-me parte dessa água viva que corre do Coração de Deus até nós, não me deixa saborear a abundância do presente que percorro. É como se me tivesse tornado mero espectador passivo dos caminhos que percorro, ou melhor dos caminhos que me percorrem, ao jeito estóico, numa inquieta tranquilidade. E assim permaneço na esperança, trazida por um abraço, uma palavra ou um sorriso, de que Aquele que É volte a abrir o mar no meu íntimo e consiga regressar a casa...





Lenta, descansa a onda que a maré deixa.
Pesada cede.
Tudo é sossegado.
Só o que é de homem se ouve.
Cresce a vinda da lua.
Nesta hora, Lídia ou Neera
Ou Cloe,
Qualquer de vós me é estranha, que me inclino
Para o segredo dito
Pelo silêncio incerto.
Tomo nas mãos, como caveira, ou chave
De supérfluo sepulcro, o meu destino,
E ignaro o aborreço
Sem coração que o sinta.

Ricardo Reis

1 comentário:

  1. Por vezes, parecemos espectadores do nosso caminho. O importante é quando, chegamos a determinado momento, termos a certeza de que esse é o nosso caminho, que nos enche na sua plenitude. É necessário estarmos atentos à nossa voz interior... ela fala connosco.. deixemo-la ouvir. Bjs. Rui

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